Uma pesquisa inédita produzida no Brasil relaciona o controle dos “fogachos” típicos do climatério – fase da vida feminina que antecede a menopausa e é marcada por alterações hormonais e psíquicas – ao uso da toxina botulínica (botox) no tratamento integrado da enxaqueca. O estudo foi realizado por pesquisadores do Headache Center Brasil, liderado pela médica neurologista Dra. Thais Villa.
Fogachos e enxaqueca: desconfortos do climatério
Os “fogachos” são ondas de calor intenso e repentino que têm início na região do peito e sobem até o rosto, geralmente acompanhadas de transpiração e vermelhidão da pele. O sintoma é comum no climatério, que geralmente ocorre entre os 45 e 55 anos de idade e marca o término da vida reprodutiva feminina.
Já a enxaqueca é uma doença do cérebro que atinge mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Esta é a terceira enfermidade mais prevalente e a primeira mais incapacitante em adultos até 50 anos de idade. A gravidade é tão séria que 90% dos pacientes não conseguem sequer trabalhar ou levar a vida normalmente durante uma crise de enxaqueca. As mulheres, por razões biológicas e hormonais, são as que mais sofrem com a doença.
Mulheres com enxaqueca têm piora dos sintomas durante o climatério, com aumento na frequência das crises de dor de cabeça e das ondas de calor. De acordo com a neurologista Dra. Thais Villa, a pesquisa brasileira revela, de forma inédita, que é possível controlar a enxaqueca com tratamentos específicos. É o caso da utilização da toxina botulínica, controlando também os fogachos do climatério.
“A maioria dos pacientes tiveram uma redução na frequência da dor de cabeça e melhora significativa na intensidade das crises de enxaqueca, voltando a ter mais qualidade de vida. O climatério é uma fase natural da vida da mulher e requer um novo olhar sobre a saúde, principalmente para quem sofre da doença”, destaca a médica.
Botox no tratamento da enxaqueca
A neurologista explica que a toxina botulínica, popularmente conhecida como botox, é uma das grandes descobertas no tratamento preventivo da enxaqueca crônica. A substância bloqueia a liberação de certos neurotransmissores responsáveis por levar a informação da dor ao cérebro. Durante o tratamento com botox foi possível observar a ocorrência de menos efeitos colaterais indesejáveis em comparação à medicação via oral, como sonolência, ganho de peso, entre outros.
“Nossa experiência clínica mostrou que o controle dos fogachos acontece mesmo em pacientes que não fazem a reposição hormonal. Pelo contrário, a utilização do estrogênio pode ser contraindicada para mulheres com enxaqueca, principalmente se é com aura. Isto é, com sintomas neurológicos, visuais, dormências e formigamentos no corpo, alterações na fala. Isso porque o hormônio pode aumentar o risco de tromboses, AVC e infarto”, explica a especialista.