Doenças

Doença de Lyme: entenda a infecção que atinge Justin Bieber e outros famosos

A Doença de Lyme é uma infecção com consequências cardíacas, neurológicas e articulares. Especialistas explicam contágio e tratamento

Doença de Lyme: entenda a infecção que atinge Justin Bieber e outros famosos - Shutterstock

A Doença de Lyme acomete nomes como Justin Bieber, Avril Lavigne, Ben Stiller, Alec Baldwin e Shania Twain. Acredita-se que a enfermidade também tenha sido a causa da morte de Charles Darwin. 

O Lyme é uma infecção bacteriana transmitida por carrapatos que pode acarretar complicações cardíacas e neurológicas. Diversos artistas já precisaram fazer uma pausa na carreira em decorrência da doença, como é o caso do cantor Justin Bieber, que cancelou apresentações que faria em junho na América do Norte devido à piora do seu quadro de saúde.

Contágio e sintomas

O Dr. João Otavio Ribas Zahdi, médico clínico, nefrologista e coordenador do serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM), explica que, por ser uma enfermidade transmitida por carrapatos, a exposição está diretamente relacionada ao risco de contágio.

“Ela é mais comum em população jovem, por tratar-se de grupos com maior exposição a áreas florestais. A melhor maneira de prevenção consiste em evitar ao máximo o risco de contato com o carrapato transmissor. Caso a exposição seja inevitável, deve ser feito exame minucioso do corpo inteiro, removendo qualquer carrapato encontrado”. No entanto, o especialista pontua que o carrapato pode passar despercebido em uma inspeção menos detalhada, já que ele é menor do que aqueles encontrados nos cães.

Os sintomas de Lyme podem aparecer de 3 a 32 dias após a picada de um carrapato. Os principais são: 

  • Cansaço
  • Febre; 
  • Calafrios; 
  • Dor de cabeça; 
  • Rigidez no pescoço; 
  • Dores nas costas, músculos e articulações; 
  • Manchas vermelhas; 
  • Náuseas; 
  • Vômito; 
  • Dor de garganta; 
  • Inchaço nos linfonodos. Os sinais de infecção  

Avanço da doença e tratamento

O médico destaca que a enfermidade é combatida por antibióticos direcionados à bactéria causadora, a Borrelia bugdorferi ou Borrelia mayonii.  “Dependendo da fase da doença e dos órgãos acometidos, o tempo de antibioticoterapia varia entre 10 e 28 dias. Conforme a repercussão clínica, terapêuticas adjuvantes podem ser utilizadas. Para manejo das dores articulares, além da antibioticoterapia, os anti-inflamatórios não-esteroidais são boa opção. Caso haja derrame articular, seu esvaziamento por meio de artrocentese também traz imediata resposta à limitação dolorosa. Em caso de bloqueios cardíacos, não raro é indicado marca-passo temporário”, recomenda.

De acordo com o profissional, casos não tratados podem evoluir causando especialmente sequelas articulares, como artralgias persistentes e cistos articulares ou neurológicas, com neurite motora, sensitiva, até mesmo déficit cognitivo. Segundo o Dr. João Otávio, com o tratamento adequado, a bactéria é erradicada e é possível alcançar a cura. No entanto, alguns pacientes podem ter manifestações persistentes, como artralgias e neuropatias, secundárias à manutenção da resposta imune do organismo, o que exige acompanhamento e terapêuticas específicas.

É imprescindível a avaliação do paciente por um profissional experiente em doenças infecciosas – isso sempre que houver a mínima suspeita, já que o diagnóstico depende de uma associação clínico-epidemiológica-laboratorial. A prevenção e o diagnóstico precoce são sempre a melhor alternativa para o prognóstico da doença.

Vacina e casos no Brasil

A Dra. Camila Sacchelli, imunologista da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), indica que até o momento não há vacinas para a Doença de Lyme. Contudo, o tratamento é eficaz para a forma aguda da doença. “Em alguns casos, o quadro grave ocorre na fase crônica, quando alguns pacientes apresentam quadros de autoimunidade, com dores reumáticas, ou até mesmo encefalites”. 

A imunologista ainda ressalta que há uma vacina da Pfizer em fase de teste clínico, tendo chances de ser disponibilizada em breve. “Se baseia em uma proteína de superfície da bactéria e está sendo testada em adultos e crianças”, completa.

No Brasil, a enfermidade é considerada rara. Camila Sacchelli explica que o carrapato vetor não é encontrado em território brasileiro. Entretanto, podemos enfrentar uma doença parecida, causada possivelmente por uma outra bactéria do mesmo gênero: a doença de Lyme símile. “Vale salientar que temos outras espécies de carrapatos que transmitem a febre maculosa (Rickettsia), doença potencialmente fatal, para a qual há tratamento no SUS, mas que deve ser iniciado o quanto antes”, finaliza.

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