Doenças

Muito além dos tremores: conheça os sintomas e tratamentos do Parkinson

Nem sempre o Parkinson causará tremores nos pacientes. Na verdade, há sintomas muito mais frequentes. Veja quais

Muito além dos tremores: conheça os sintomas e tratamentos do Parkinson - Foto: Shutterstock

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 1% da população mundial com idade superior a 65 anos tem Parkinson. Só no Brasil, estima-se que 200 mil pessoas sofram com a enfermidade. 

E, ao contrário do que se pensa normalmente, nem todo paciente com Parkinson apresenta tremor, aponta o Dr. Guilherme Torezani, coordenador de doenças cerebrovasculares do Hospital Icaraí e coordenador da Neurologia do Hospital & Clínica de São Gonçalo.

Os verdadeiros sintomas do Parkinson

Conforme o médico, quando o sintoma está presente, geralmente se apresenta em um dos membros em repouso e nas extremidades do corpo. Os sintomas principais da doença são, na verdade, rigidez muscular e lentidão nos movimentos, além de progressiva perda de equilíbrio (instabilidade postural).

“O início dos sintomas motores pode ser sutil, com lentidão em uma das mãos, que leva à diminuição da letra ao escrever (chamado de micrografia). Ou ainda, muito comumente, a redução do balançar de um dos braços durante a caminhada”, explica o especialista.

Há, também, outros sintomas não motores, como a diminuição do olfato, os distúrbios do sono, a prisão de ventre (constipação) e, até mesmo, a depressão. 

Quanto ao sono, “Distúrbio Comportamental do Sono REM” é cada vez mais alvo de estudos. Essa fase do sono deriva da expressão em inglês “rapid eye movement” (em português,  “movimento rápido dos olhos”) e se caracteriza pela ocorrência dos sonhos. Acontece que o nosso cérebro produz uma paralisia de todo o corpo nesse período, mas que, nesse distúrbio, a paralisia se faz ausente.

Como resultado, o paciente apresenta movimentos complexos, como se vivenciasse seus sonhos. Em estudos, a presença dessa alteração, que pode anteceder o surgimento dos sintomas motores em muitas décadas, relacionou-se com risco bem elevado de se desenvolver doença de Parkinson e outras doenças “similares”. 

Causas para a doença

Mesmo com os avanços científicos, como identificação de algumas proteínas e alterações metabólicas nos pacientes, ainda não se sabe exatamente quais são os motivos que levam a essa perda progressiva de neurônios. 

Em geral, a doença é idiopática, ou seja, não há um fator claro que tenha produzido o Parkinson. No entanto, há algumas formas genéticas que podem acometer famílias, ainda que sejam formas mais raras. Outro fator muito ligado ao risco de se desenvolver essa comorbidade é a exposição a certos tipos de agrotóxicos – muitos deles banidos em diversos países, mas comuns no Brasil.

“Com o envelhecimento, é natural que tenhamos a morte progressiva dos neurônios que produzem dopamina, que é responsável pelo aprendizado motor, sistema de recompensas e outras várias funções cerebrais complexas. Porém, no caso dos pacientes com Parkinson, essas células se perdem com mais rapidez, reduzindo os níveis de dopamina”, explica o Dr. Guilherme Torezani. 

Ele complementa que essa perda preferencial de neurônios de dopamina pode ter a ver com o fato dessas células possuírem muito mais conexões (sinapses) que outras em nosso cérebro, deixando-as mais sensíveis ao processo de neurodegeneração.

Tratamento do Parkinson

De acordo com o médico, na década de 1960, com a descoberta do uso da levodopa no tratamento, houve uma drástica mudança na história natural da doença. O resultado era tão potente que se apelidou de “efeito milagroso”. 

“A levodopa, que persiste sendo o principal tratamento dos sintomas até o presente dia, é uma forma de dopamina que, após a ingestão, consegue chegar até o cérebro. Pensa-se como se fosse uma reposição contínua dessa substância que o paciente não consegue mais produzir de forma eficaz”, explica. 

Saber administrar a dose e os efeitos colaterais com um neurologista que tenha experiência com Parkinson é muito importante para o sucesso do tratamento. Além disso, haja vista que o paciente, adequadamente tratado, pode exercer muitas atividades diárias e ter uma vida praticamente normal por muitos anos. 

Para o neurologista, o tratamento não para somente nos medicamentos. Deve-se aliar à prática da fisioterapia motora contínua, terapia ocupacional e atividade física, pois isto ajuda na melhora do equilíbrio, da força física e do resgate da autonomia e autoestima. 

Cirurgia para Parkinson?

“Em casos em que não há melhora com o uso destes medicamentos, também é possível realizar, quando adequadamente indicado, um procedimento cirúrgico, chamado ‘Estimulação Cerebral Profunda’ (ou DBS)”, aponta o especialista. 

Segundo ele, o DBS já possui muitos anos de estudo e tem sido cada vez mais empregado no tratamento. Os resultados são muito favoráveis no controle de tremor, rigidez muscular e lentidão de movimentos.

“No entanto, deve-se buscar um grupo de neurocirurgia funcional e neurologistas especializados em Neuromodulação. Assim, é possível verificar a precisa indicação (ou não) da cirurgia. De nada adianta passar pelo procedimento cirúrgico se o processo de triagem não foi feito de forma adequada”, alerta. 

A cannabis no tratamento da doença

O Dr. Guilherme Torezani lembra também que muito tem sido comentado sobre o tratamento com derivados da cannabis. Ainda que pareça promissor, é preciso mais estudos para melhor entender o papel desses medicamentos no tratamento, diz o especialista. 

“Na cannabis, encontramos mais de cem substâncias químicas diferentes, e ainda estamos começando a entender a função delas. O canabidiol, por exemplo, por um lado tem sido muito promissor no controle dos sintomas motores. Por outro já foi correlacionado em estudos à piora da cognição na doença de Parkinson”, aponta.

“Creio que ainda vamos precisar esperar grandes ensaios clínicos, que sejam feitos de forma muito criteriosa, para prescrevermos derivados da cannabis com segurança e embasados em dados científicos”, finaliza.

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