A variante XBB.1.16 do coronavírus, também chamada de arcturus, foi identificada na Índia em janeiro deste ano. Não demorou até que ela se alastrasse por quarenta países e chegasse ao Brasil. No último dia 28, a prefeitura da cidade de São Paulo confirmou o primeiro caso da mutação.
O paciente é um homem de 75 anos, acamado e com comorbidades, que possui o esquema vacinal completo contra a Covid. Ele apresentou os sintomas de síndrome gripal e febre no dia 7 de abril e recebeu atendimento em um hospital particular da capital. O homem teve alta médica na quinta-feira (27).
Arcturus pode aumentar casos de conjuntivite
O relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) revela que, embora não seja tão letal como a Ômicron, a propagação da arcturus é mais rápida. Entre os principais sintomas da infecção estão febre alta, conjuntivite e tosse.
A médica oftalmologista do CBV-Hospital de Olhos, Nubia Vanessa, explica que a inflamação das conjuntivas faz com que os olhos fiquem rosados, por conta do aumento da vascularização. “Com isso você tem lacrimejamento pela irritação das conjuntivas, aumentando a secreção. Então o paciente tem coceira e também secreção”, afirma.
Nubia lembra que um dos primeiros sintomas da Covid-19, desde o início, já era a conjuntivite. Antes mesmo dos sintomas respiratórios, o paciente pode apresentar a condição. “O paciente com sintomas oftalmológicos deve procurar um médico oftalmologista para diagnosticar e tratar adequadamente”, destaca a especialista.
Para o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier de Campinas, esta nova onda de Covid pode resultar em um surto de conjuntivite. Isso porque, a arcturus está chegando ao país justamente em um período de baixa umidade do ar, o que reduz as defesas do organismo e resseca todas as mucosas, inclusive a lágrima que tem a função de proteger a superfície dos olhos.
“A falta de lágrima, somada às alterações ambientais facilitam o aparecimento da conjuntivite alérgica e da viral. Nos dois tipos ocorre a inflamação da conjuntiva, membrana que recobre a esclera, parte branca do olho, e a face interna da das pálpebras”, esclarece o médico.
“Pálpebras inchadas, vermelhidão, coceira, ardência, sensação de areia nos olhos, lacrimejamento e fotofobia (aversão à luz) são sintomas em comum de todo tipo de conjuntivite”, explica. Segundo o médico, é a secreção que diferencia uma da outra, sendo aquosa na conjuntivite alérgica e transparente e viscosa no quadro viral.
Conjuntivite viral
Leôncio afirma que a conjuntivite viral é altamente contagiosa. Além disso, ela pode surgir em qualquer idade e tem como principal veículo de transmissão levar as mãos contaminadas aos olhos. Os grupos de maior risco são:
- Crianças porque estão com o campo imunológico em desenvolvimento
- Idosos por terem o sistema imunológico mais frágil.
- Mulheres na pós-menopausa devido à menor produção da lágrima com a queda dos estrogênios.
Nas empresas e escolas, alerta, a transmissão ocorre pelo compartilhamento de teclados de computador ou mouse e pelo contato com interruptores de luz e corrimão de escadas. O especialista também chama a atenção para os carrinhos de supermercado e balcões do varejo.
O tratamento inicial é feito com compressas frias e lubrificação intensa. Nos casos graves, colírios anti-inflamatórios que contém corticoide são os mais indicados. “A venda desta classe de colírios é livre, mas nunca deve-se usá-los sem prescrição e acompanhamento médico para evitar complicações maiores como a catarata e o glaucoma”, adverte o médico.
O oftalmologista indica usar óculos escuros, pois, além de melhorar o conforto em ambientes claros, evita a proliferação de vírus, que aumenta com a exposição à radiação ultravioleta.
Conforme o especialista, um erro comum cometido por muitas pessoas é usar água boricada nos olhos, o que aumenta a irritação e pode causar alergia. Como toda doença viral, a conjuntivite tem seus sintomas controlados pelos medicamentos, mas o vírus pode criar resistência, ressalta Leôncio.
Por isso, há casos em que se formam membranas na conjuntiva que exigem tratamento com corticoide e até aplicação de laser para remover opacidades que reduzem a acuidade visual, explica o profissional.
Como prevenir a forma viral da conjuntivite
- Tome a vacina ambivalente se você ainda não se vacinou;
- Lave as mãos com frequência ou higienize com álcool;
- Pratique exercícios moderados e constantes;
- Mantenha os olhos bem hidratados;
- Caso pegue um resfriado ou gripe mantenha o uso da máscara;
- Evite aglomerações em locais fechados;
- Não pule refeições;
- Durma de 6 a 8 horas por dia.
Conjuntivite alérgica
“A conjuntivite alérgica nesta época do ano é causada principalmente pelo aumento da poluição no ar e é mais comum em quem sofre algum tipo de alergia. Isso porque, estudos mostram que 6 em cada 10 alérgicos manifestam a doença nos olhos”, aponta o oftalmologista. Ao contrário da forma viral, a conjuntivite não é contagiosa, mas pode causar lesões na córnea e diminuir permanentemente a visão, alerta.
O colírio anti-histamínico é a principal forma de tratar os casos leves. O médico ressalta que o uso de antialérgico oral, para tratar alergias sistêmicas simultâneas à conjuntivite, resseca a lágrima e por isso dificulta a recuperação dos olhos.
Quem já tem ceratocone, doença degenerativa que faz a córnea tomar o formato de um cone e tem como principal fator de risco coçar os olhos, deve utilizar os colírios já prescritos pelo oftalmologista e em caso de crise alérgica durante o outono passar por consulta.
“Quadros mais intensos de conjuntivite alérgica são tratados com colírios que contém corticoide. O medicamento só pode ser usado com supervisão médica”, salienta o especialista. Isso porque, é preciso fazer a regressão correta para não causar efeito rebote. Além disso, usar por um tempo prolongado pode causar glaucoma e catarata.
Como prevenir a conjuntivite alérgica:
- Mantenha os ambientes arejados e livres de pó;
- Evite levar as mão com substâncias químicas aos olhos;
- Não faça caminhada ou outros exercícios em locais muito poluídos;
- Beba bastante água;
- Não use lápis na borda interna das pálpebras para não alterar o PH da lágrima.