A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu em 2022 o burnout como uma doença ocupacional. Isto é, consequência do trabalho. Desde então, a síndrome tem sido amplamente discutida, abrindo espaço para abordar o surgimento de fenômenos derivados, como o burnout materno.
Para o psicólogo com pós-graduação em neuropsicologia, Aslan Alves, o tema ganha crescente atenção à medida que mais se reconhece o impacto psicológico e emocional da maternidade na saúde mental das mulheres.
“Este tipo de esgotamento não é restrito às mães trabalhadoras, como é frequentemente associado ao burnout profissional, mas envolve todas as mães, incluindo aquelas que se dedicam integralmente ao cuidado dos filhos”, destaca.
A condição, segundo o especialista, se caracteriza por sintomas como exaustão extrema, distanciamento emocional dos filhos, irritabilidade, insônia, falta de prazer nas atividades diárias e uma sensação de ineficácia e desespero no papel materno.
No entanto, o impacto vai além das mães, e se estende às crianças. “Crianças cujas mães estão em burnout podem apresentar mais problemas comportamentais e emocionais, refletindo o impacto negativo do ambiente familiar estressante”, aponta Aslan.
Mães de crianças no espectro
O burnout materno pode ser particularmente intenso para mães de filhos atípicos. Ou seja, com necessidades especiais, sejam elas relacionadas ao neurodesenvolvimento ou condições neurológicas, destaca o psicólogo, que é especialista no atendimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Crianças com autismo, síndrome de Down, TDAH, paralisia cerebral, entre outras condições, requerem uma atenção e cuidado contínuos e, muitas vezes, intensos, lembra Aslan.
“A constante demanda por cuidados especializados, a necessidade de interagir com múltiplos profissionais de saúde, a gestão de terapias e tratamentos, e a preocupação constante com o bem-estar e desenvolvimento da criança podem levar a um nível de estresse crônico muito elevado”, afirma o especialista.
Para essas mães, o suporte social pode ser insuficiente. Isso porque elas frequentemente se encontram isoladas. Seja por falta de compreensão de familiares e amigos, ou pela dificuldade em participar de atividades sociais comuns devido às necessidades especiais de seus filhos.
“Esse isolamento social pode intensificar a sensação de sobrecarga e esgotamento. Além disso, a falta de tempo para cuidar de si mesmas e a culpa por sentir cansaço ou frustração podem agravar ainda mais o quadro de burnout”, alerta o profissional.
Como combater o problema
Para Aslan, a falta de políticas de apoio à maternidade, como licença maternidade adequada e flexibilidade no trabalho, contribui para esse cenário. Além disso, a competição nas redes sociais também pode aumentar a sensação de inadequação e esgotamento. Isso porque este é um espaço onde muitas mães se sentem compelidas a mostrar uma imagem idealizada da maternidade.
Para combater o burnout materno, é fundamental um apoio mais robusto e abrangente. “Isso inclui políticas públicas que ofereçam suporte real às mães, programas de intervenção e prevenção, e uma rede de apoio social mais forte”, diz o profissional.
Nesse sentido, o psicólogo recomenda:
- Promover o autocuidado e a saúde mental das mães;
- Reconhecer as diversas necessidades das mães, em diferentes contextos;
- Investimento em programas de apoio psicológico, como grupos de apoio, ou terapia individual;
- Gestão do estresse e técnicas de relaxamento;
- Envolvimento ativo das famílias e parceiros no apoio às mães, dividindo responsabilidades e oferecendo reconhecimento pelo trabalho diário que realizam.
“A valorização do papel materno na sociedade e a criação de uma cultura de empatia e suporte podem aliviar significativamente a pressão que muitas mães sentem. As mães devem entender a importância de buscar ajuda profissional quando necessário, colocando sua saúde mental como prioridade, pois dela depende a harmonia e a saúde da família”, finaliza o especialista.