Crianças e adolescentes estão enfrentando mais problemas de saúde mental. Dados da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS, colhidos de 2013 a 2023, apontam que o nível de ansiedade entre crianças e jovens superou o dos adultos. Uma análise feita pela Folha de S.Paulo mostra que essa virada ocorreu em 2022. Ssegundo especialistas, esta é uma consequência dos impactos da tecnologia nestas gerações.
A pandemia de covid-19 foi um fator importante, pois afetou diretamente a vida da grande maioria das pessoas, incluindo os jovens. Estes passaram a ter uma nova rotina, com os estudos online e menos socialização.
O cenário também atingiu os mais novos, especialmente crianças na primeira infância (até os 6 anos). Um estudo publicado na revista Jama Pediatrics mostrou que o longo período de exposição a telas entre bebês resultou em menos interação verbal dos pequenos com os pais.
Outro estudo, desta vez da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), concluiu que o uso excessivo de telas está ligado a uma piora da saúde mental de idosos, adultos, adolescentes e crianças. Segundo a pesquisa, utilizar o celular e computador com muita frequência causa sintomas de estresse, depressão e ansiedade.
O papel da escola
Segundo Maria Carolina Araujo, diretora de ensino da Rede Anglo Alante, é preocupante observar como o uso de celulares está afetando a saúde mental dos jovens. Para ela, eles se veem imersos em um mundo virtual, comparando suas vidas com versões idealizadas de outras pessoas nas redes sociais. Além disso, se fecham para o mundo real, prejudicando suas habilidades de socialização e enfrentamento.
“É fundamental que o ambiente escolar forneça alternativas e promova a conscientização sobre a importância do equilíbrio entre o mundo digital e o presencial. Não é proibir algo que já faz parte da realidade desses jovens, mas oferecer alternativas em que o celular seja mais uma opção e não a única. Assim, mostrando que a vida vai além do mundo virtual e que existem muitas opções e formas de se divertir no mundo real”, destaca.
De acordo com Gabriella Neves, psicóloga da FourC Bilingual Academy, a escola tem um papel importante nesse contexto. Além disso, ela pode auxiliar na redução da ansiedade dos alunos ao proporcionar um ambiente seguro e acolhedor.
“Existem estratégias que podem oportunizar um ambiente inclusivo e flexível, onde os alunos possam se sentir valorizados e seguros para falar sobre seus sentimentos, com planos de ação e adaptações conforme suas necessidades”, explica.
“A promoção de atividades físicas e recreativas como esportes, artes e outras atividades extracurriculares que promovam o bem-estar físico e mental também podem ajudar”, afirma a psicóloga. No entanto, também é necessário identificar os casos em que se deve buscar apoio externo de profissionais da área da saúde, destaca Gabriella.
Substituindo as telas
Na atualidade, cada vez mais, as crianças vêm intensificando o seu contato com as telas. Seja por meio da televisão, do smartphone, do computador ou de outros eletrônicos. No entanto, segundo Sarah Helena, psicóloga e curadora da Leiturinha, existem outras formas de proporcionar entretenimento e diversão às crianças, sem necessariamente envolver o digital.
A leitura é um exemplo disso, pois além de ser uma alternativa aos eletrônicos, também estimula o raciocínio e a imaginação, melhorando o vocabulário e desenvolvendo o pensamento crítico.
“A leitura é uma atividade analógica, tem um ritmo mais lento e respeitoso em relação ao desenvolvimento das crianças. Em contraposição à superestimulação do cérebro experimentada com o uso excessivo das telas, a leitura não agita ou sobrecarrega as crianças, mas acalma e aquieta a mente para que os aprendizados se consolidem de maneira apropriada”, explica.
Em outras palavras, segundo ela, podemos dizer que a leitura é uma atividade tranquilizadora e estimulante na medida certa, trazendo inúmeros benefícios ao desenvolvimento infantil.