O medicamento Venvanse, nome comercial do dimesilato de lisdexanfetamina, está liberado pela Anvisa para venda no Brasil desde 2010. Contudo, nos últimos anos, especialistas de saúde têm acendido um alerta sobre o mau uso da medicação – o que pode oferecer sérios riscos à saúde.
O Venvanse é inicialmente indicado para o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Além disso, a anfetamina também serve para tratar transtornos alimentares. Apesar disso, muitas pessoas (especialmente jovens) utilizam a medicação como um estimulante.
De acordo com dados obtidos pela Veja, a venda do medicamento no país dobrou entre 2020 e 2022: passou de 66.533 para 137.468 caixas anuais. E ele não é barato: uma caixa com 28 cápsulas de 50 miligramas custa por volta de 500 reais. Com a tendência de uso psicoestimulante, os usuários de Venvanse muitas vezes o adquirem de formas ilícitas, semelhante à cocaína e à heroína.
Os riscos do Venvanse
O neurologista e neurocirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Wanderley Cerqueira de Lima, aponta que o medicamento tem efeito semelhante ao de outras anfetaminas.
“Elas levam a uma sensação de bem-estar, aumentam a energia, o otimismo e a agitação psicomotora. Mas também podem levar à intoxicação, paranoia grave, psicose. Às vezes aliviam também a insônia e podem dar uma sensação de estar ‘antenado’”, alerta.
Além disso, o Venvanse aumenta a pressão arterial, o que pode levar ao infarto agudo do miocárdio, causa alterações no sono, eleva a fadiga, causa sobrecarga cardíaca e tolerância.
Sintomas de dependência
Por ser uma substância psicoativa, o medicamento ativa impulsos de recompensa no cérebro, o que tem o potencial de causar dependência com facilidade. “Cada vez mais você vai precisar de doses maiores, seja qual for a finalidade, para a rotina do trabalho, para tomar de forma criativa ou para cortar o apetite”, adverte o médico.
O Venvanse também pode causar o efeito rebote, ainda mais grave do que no caso de outras drogas. “A anfetamina leva a uma intoxicação mais duradoura do que a própria cocaína. Quando são usadas essas substâncias, o humor torna-se elevado, mas pode ser seguido de uma apatia, uma sonolência, depressão ou abstinência. Eventualmente usando ela como supressão do apetite, a anfetamina vai anteceder aquela forma voraz que vem a seguir (a compulsão alimentar)”, completa o médico do Hospital Albert Einstein.
Alerta sobre a automedicação
O especialista reforça os riscos de tomar o medicamento sem necessidade ou orientação médica. “Essa droga não pode ser usada fora da prescrição e nunca dessa forma recreativa, achando que você vai melhorar o seu trabalho, vai resolver os seus problemas no dia a dia ou resolver a sua apatia. Não é o caso. O remédio pode inclusive matar”, adverte.