O Brasil está enfrentando uma epidemia de dengue como nunca vista antes. De acordo com um balanço apresentado nesta quarta-feira (20) pela secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, o país já registrou quase 2 milhões de casos da doença desde 1º de janeiro. E, além da dengue, outro surto que tem chamado a atenção das autoridades médicas é o da febre oropouche.
Nos primeiros meses de 2024, mais de 1,7 mil registros da febre do oropouche ocorreram no Norte do Brasil, superando em quase 70% os casos reportados no ano anterior, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas. O Rio de Janeiro confirmou o primeiro caso de oropouche após um paciente voltar de Manaus com sintomas da doença.
Febre oropouche, dengue e chikungunya
O avanço da oropouche acendeu o alerta dos especialistas e da população de todo o Brasil, que já enfrenta uma das piores crises de dengue da história. Ambas as doenças, e também a chikungunya, têm sintomas e transmissão semelhantes.
Vale destacar que os registros desses casos vêm ocorrendo em épocas próximas, o que dificulta a distinção entre seus paradeiros. Segundo Eduardo Fonseca, professor de Farmácia da UNISUAM, existe a possibilidade de infecção cruzada caso a pessoa viva numa região onde ocorre a circulação concomitante dos três vírus e que tenha a presença dos mosquitos que transmitem cada um deles.
“Ou seja, ainda que sejam disseminados por diferentes vetores, uma pessoa pode ter seu corpo infectado ao mesmo tempo por mais de um vírus”, completa o professor.
O professor explica ainda que, semelhante ao mosquito transmissor dos vírus da dengue e da chikungunya, o mosquito responsável por transmitir o vírus oropouche também pode se desenvolver em água parada.
Além disso, o vírus pode circular em ambientes silvestres e urbanos. “No ciclo silvestre, a doença atinge animais como bichos-preguiça e macacos são infectados. No urbano, os seres humanos são os hospedeiros do vírus”, esclarece o docente.
Para Fonseca, o que deve acontecer em um primeiro momento é a transmissão importada. Isto é, quando uma pessoa viaja para a região Norte do país ela pode se infectar. E, quando volta a sua cidade de origem, o mosquito ao picar essa pessoa pode transmitir para outras.
Devido a semelhança dos sintomas e a situação atual da dengue, somente um diagnóstico laboratorial consegue diferenciar os tipos de vírus no corpo humano, além de auxiliar no monitoramento das doenças no Brasil.
Entenda a febre oropouche
A médica infectologista do Hospital São Francisco de Mogi Guaçu Dra. Fabiana Romabello explica que a febre oropouche é uma doença infectocontagiosa, causada por um arbovírus comum em áreas tropicais. A transmissão ocorre pela picada do mosquito de uma espécie específica, o Culicoides paraensis, que popularmente ganhou o nome de “mosquito pólvora”.
“Este inseto tem a capacidade de se reproduzir em áreas úmidas e vive na região amazônica, habitat favorável para seu ciclo de vida. Após picar um hospedeiro do vírus, que pode ser uma pessoa ou animal infectado pela oropouche, o mosquito ‘carrega’ o vírus no sangue por alguns dias. Em seguida, ele pode transmiti-lo a uma pessoa saudável por meio da picada”, completa a infectologista.
Os principais sintomas da febre oropouche são bem semelhantes com os casos de dengue e chikungunya. São eles:
- Predominância de dor de cabeça e muscular;
- Dor nas articulações;
- Náuseas;
- Diarréia;
- Manchas avermelhadas na pele.
Além disso, assim como nas outras doenças, espera-se a resolução do quadro em 7 dias. O período de incubação pode variar de 3 a 8 dias.
“Não existe um antiviral específico para a doença oropouche. O tratamento é sintomático visando manter a hidratação do paciente, que é muito importante assim como nos casos de dengue. Além disso, busca-se o alívio dos sintomas, com medicação para baixar a febre e analgésicos para diminuir as dores musculares e articulares”, explica Fabiana Romanello.