Quem sofre frequentemente com crises de rinite entende o problema que a poeira pode causar às vias respiratórias. Os sintomas de alergia a ácaros, no entanto, nem sempre se manifestam no nariz.
A médica alergista e imunologista (HSPE-SP) do Espaço Zune, Raissa Pimentel, explica que a rinite alérgica é a forma mais comum de manifestação dos sintomas. Então, é comum o paciente apresentar espirro, coriza, congestão nasal e coceira no nariz. Porém, a alergia a ácaros pode causar ainda outros tipos de distúrbios no organismo.
Manifestações da alergia a ácaros
“Pode vir também como uma arma alérgica, pois essa exposição aos ácaros vai desencadear os sintomas da asma, que são aqueles sibilos conhecidos como chiado no peito, falta de ar, crise de tosse seca e, às vezes, pode até dar um aperto no peito”, aponta a especialista.
Além disso, pacientes que já têm dermatite atópica podem apresentar um agravamento desse quadro. Isto é, uma piora das lesões de pele, da coceira e do prurido. “Por último, pode ser a conjuntivite alérgica, pois a alergia ao ácaro pode vir só com sintomas oculares, que são lacrimejamento e coceira no olho”, acrescenta a médica.
Portanto, cada pessoa deve reagir à alergia a ácaros de uma maneira diferente. Por isso, é importante avaliar a intensidade e até a combinação dessas comorbidades, destaca Raissa.
Como diferenciar as condições
Alergia não dá febre, ressalta a especialista. Portanto, este é um caminho para diferenciar as crises alérgicas de problemas como gripes ou resfriados. “Lmbrando que, no caso de resfriado e gripe, o paciente vai apresentar sintoma de dor no corpo, um mal-estar generalizado, febre, coisas que alergia não causa”, diz a profissional.
Já no caso da dermatite atópica, é preciso fazer diagnóstico diferencial com uma dermatite de contato, porque às vezes elas podem ter lesões parecidas. “A dermatite de contato é aquela em que temos contato direto com o alérgeno ou algum irritante específico, desencadeando os sintomas”, explica Raissa.
E, no caso da conjuntivite alérgica, é preciso comparar o quadro com a conjuntivite infecciosa, que causa vermelhidão e lacrimejamento – que também podem ocorrer nas conjuntivites alérgicas, bacterianas e virais.
“Porém, geralmente na conjuntivite infecciosa vai ocorrer uma secreção ocular, uma secreção amarelada ou às vezes esverdeada, mais espessa. No caso da conjuntivite alérgica é mais lacrimejamento, é lágrima mesmo, o olho fica lacrimejando muito. Na infecciosa já fica uma secreção mais espessa, esverdeada, amarelada”, explica.
Para fazer o diagnóstico da alergia a ácaros, o ideal é passar por uma consulta com um especialista, no caso alergista, para fazer os testes específicos, tanto o “prick test”, que são os testes cutâneos, ou as IgE específicas. Isto é, exames de sangue que identificam se esse paciente tem ou não sensibilidade ao ácaro.
Tratando a raiz do problema
Raissa lembra ainda que o tratamento da alergia é um tratamento multifatorial mesmo. Por isso, para tratar a alergia ao ácaro, é preciso focar tanto no alívio dos sintomas, quanto na redução também da exposição aos ácaros, que é a raiz do problema.
“Temos que conscientizar o paciente e existem algumas estratégias também para fazer com que esse tratamento tenha sucesso. O controle ambiental, que é reduzir a exposição destes aos ácaros, é o fator principal e mais importante para minimizar os sintomas. Isso porque é preciso identificar ao que o paciente tem alergia e afastá-lo disso, assim cortamos a raiz”, destaca a médica.
Nesse sentido, a alergista faz algumas recomendações:
- Colocar capa antiácaro no colchão e travesseiro;
- Trocar o colchão a cada cinco anos e travesseiro a cada dois anos;
- Lavar roupa de cama com água quente acima de 55 graus, medida usada para matar os ácaros;
- Evitar carpete e cortina dentro do quarto;
- Sempre optar por cortinas leves e aquelas que podem ser lavadas mais facilmente e com maior frequência;
- Manter o ambiente sempre fresco, bem ventilado e arejado para reduzir a umidade, pois ela favorece o crescimento do ácaro;
- Fazer limpeza regular do cômodo onde o paciente mora;
- Reduzir objetos que acumulam poeira, como brinquedos, ursinhos de pelúcia e livros.
O tratamento medicamentoso, por sua vez, ajuda a controlar esses sintomas. “Os mais comuns são os anti-histamínicos, que vão trazer alívio imediato sintomas como espirro, coceira nariz, coriza. Também fazemos o uso do corticoide nasal, ele já vai agir na inflamação, reduzindo a inflamação nasal e aí sim conseguimos controlar essa rinite alérgica”, diz a profissional.
Em alguns casos, é possível recorrer ao descongestionante. No entanto, é preciso muita cautela, por um curto período de tempo, sempre um período limitado. “Não podemos usar por mais de cinco dias. Se o paciente tiver uma asma alérgica associada, fazemos o uso do broncodilatador inalatório nos casos de crise de asma”, acrescenta Raissa.
No inverno as alergias podem piorar
No inverno há um aumento dos pacientes sintomáticos em relação aos quadros alérgicos. Isso porque, nos dias frios, ficamos em ambientes mais fechados, o que reduz a ventilação, aumentando a concentração de ácaro e até outros alérgenos dentro de casa.
Além disso, pode haver o uso aumentado de aquecedor, que diminui a umidade relativa do ar, criando um ambiente favorável para a proliferação desses ácaros: locais úmidos e quentes.
A limpeza regular também é menos frequente no inverno por conta do frio, o que vai levar a um acúmulo de poeira e os ácaros vão se proliferar nesses ambientes internos. “Todos esses fatores combinados vão resultar no aumento da exposição aos ácaros e, consequentemente, vai haver uma maior frequência e uma gravidade maior de sintomas alérgicos nesse período”, diz a imunologista.
Por fim, Raissa recomenda fazer acompanhamento regular com alergista imunologista, que é crucial tanto para o diagnóstico dessa sensibilização ao ácaro, quanto para monitorar a eficácia do tratamento, ajustar as medidas conforme necessário e fazer com que o paciente tenha uma melhor qualidade de vida.