A comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos é proibida no Brasil. Apesar disso, seu uso é bastante popular, especialmente entre os jovens, que costumam chamar o dispositivo de vape.
Segundo um estudo da Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), a quantidade de usuários de cigarro eletrônico quadruplicou de 2018 a 2022. E, de acordo com uma pesquisa divulgada pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), a maioria deles são jovens: 9,7% das pessoas entre 18 e 24 anos já experimentaram o vape. Na faixa entre 35 e 49 anos esse percentual cai para 3,3%.
Esse dado é um grande alerta para a saúde pública, visto que o cigarro eletrônico pode ser tão ou mais prejudicial do que a versão tradicional. A mesma pesquisa divulgada pela Unesp destacou a alta quantidade de açúcar presente nos líquidos que abastecem os cigarros eletrônicos para proporcionar aromas de frutas. Essas substâncias podem causar cárie e doenças periodontais. Além disso, o dispositivo pode causar outros sérios problemas de saúde.
“No Dia de Combate ao Fumo (29/08), precisamos focar nossos esforços para mudar o cenário como fizemos com o do tabagismo tradicional: em 2000, 30% dos brasileiros eram tabagistas. Em 2021, eram apenas 9%, um dos menores do mundo”, destaca o Dr. Rafael Canineu, geriatra e diretor médico de Health Analytics da Alliança Saúde.
Riscos do cigarro eletrônico
Conforme o médico, o fumo gera efeitos nocivos para a saúde que, muitas vezes, só são percebidos na velhice. Entre essas consequências, é possível citar:
- Doença pulmonar crônica (bronquite e enfisema);
- Diversos tipos de câncer (pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado);
- Doença coronariana (angina e infarto);
- Doenças cerebrovasculares (acidente vascular cerebral).
No entanto, no caso do cigarro eletrônico, os problemas de saúde podem aparecer bem mais cedo. “Diferentemente do cigarro convencional, que demora às vezes 20 ou 30 anos para manifestar doenças no usuário, o cigarro eletrônico, que prometia segurança, foi capaz de matar jovens rapidamente”, explica a Dra. Jaqueline Scholz, médica especialista da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) em ações contra o tabagismo.
Segundo a especialista, o cigarro eletrônico pode induzir o corpo a respostas inflamatórias perigosas. “Muitas vezes, quando a inflamação acontece na parede do endotélio, que recobre as artérias, ele pode ser lesionado e deflagrar eventos cardiovasculares agudos, como infarto e síndrome coronariana aguda”, diz.
Pulmão de jovens ainda em formação
Em um contexto em que a maior parte dos usuários de cigarro eletrônico são os jovens, vale destacar que o corpo humano só termina de se desenvolver por completo perto dos 19 anos de idade, isto é, com algumas variações a depender do caso. Isso significa que os danos dos dispositivos podem ser ainda mais prejudiciais em pessoas mais novas.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) alertam para os males do uso da nicotina em pessoas menores de 20 anos. Segundo a organização, adolescentes que usam esses dispositivos têm mais riscos de se tornarem fumantes na vida adulta, levando a outros problemas graves de saúde.
Proibição do vape
Um relatório divulgado em 2021 pela entidade mostrou que 84 países não contam com quaisquer medidas contra a proliferação deste tipo de produto. Por outro lado, 32 países proíbem a venda desses vapes, entre eles México, Índia, Argentina e Brasil. Além disso, outros 79 adotaram pelo menos uma medida para limitar seu uso, como a proibição da propaganda, como acontece nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá.
“Os cigarros eletrônicos são proibidos, não regulamentados e nem controlados. Essa é uma questão que não deve ser ignorada. Isso porque o consumo de cigarros mata milhões de indivíduos a cada ano e desfavorece a longevidade. Para garantir uma velhice com qualidade de vida, mais saudável, é fundamental a conscientização desses jovens para os perigos dos dispositivos eletrônicos e como o seu uso está relacionado com o agravamento de várias doenças que podem surgir com o avanço da idade”, alerta o Dr. Rafael Canineu.