A condição pode aumentar em até cinco vezes o risco de complicações gestacionais; estima-se que 10% a 15% das mulheres com perdas gestacionais recorrentes tenham trombofilia, segundo estudos recentes
A influenciadora Maíra Cardi revelou recentemente ter sido diagnosticada com trombofilia, uma condição que eleva o risco de formação de coágulos sanguíneos e pode trazer sérias complicações durante a gestação.
O ginecologista e obstetra Dr. Vinícius Bassega, especialista em reprodução assistida, explica que a trombofilia é “uma condição médica caracterizada por uma maior tendência à formação de coágulos sanguíneos, o que nós chamamos de trombos, que podem ocorrer tanto em veias quanto em artérias”.
Sintomas e sinais da trombofilia
De acordo com o especialista, os sintomas variam conforme o local afetado. “Quando falamos em trombose venosa profunda (TVP), estamos tratando de um trombo que praticamente oclui um vaso, por exemplo, da perna. O paciente pode apresentar dor, inchaço e vermelhidão na região afetada”, detalha. No caso de um acidente vascular cerebral (AVC), o trombo obstrui um vaso cerebral, o que pode causar perda da fala, alteração de movimentos ou força em membros, podendo, em casos graves, levar ao coma. Já no tromboembolismo pulmonar (TEP), o coágulo se aloja nos vasos do pulmão, gerando dor torácica, dificuldade respiratória e, em situações mais severas, risco de morte.
Trombofilia e gravidez
Durante a gestação, a trombofilia representa riscos adicionais. Segundo o Dr. Vinícius Bassega, “essa condição pode acometer vasos placentários e gerar complicações como abortos espontâneos recorrentes. Além disso, também pode causar pré-eclâmpsia, restrição de crescimento intrauterino — resultando em bebês de baixo peso ao nascer — ou até morte fetal intraútero”.
Estudos publicados no American Journal of Obstetrics and Gynecology indicam que cerca de 10% a 15% das mulheres com histórico de abortos de repetição possuem algum tipo de trombofilia. Além disso, a condição pode aumentar em até cinco vezes a probabilidade de desenvolvimento de pré-eclâmpsia.
Diagnóstico e fatores de risco
O diagnóstico da trombofilia combina avaliação clínica, análise do histórico familiar e exames laboratoriais específicos. Existem dois tipos principais: hereditária, com base genética, e adquirida, relacionada a fatores desenvolvidos ao longo da vida. “As trombofilias hereditárias envolvem alterações nos fatores de coagulação, transmitidas geneticamente. Já as adquiridas podem surgir em decorrência de condições como síndrome antifosfolípide, doenças autoimunes, uso de anticoncepcionais, cirurgias de grande porte, diagnóstico de câncer e tabagismo”, explica o médico.
Ele ressalta que a própria gravidez, pelas mudanças hormonais e compressão das veias pélvicas, já é um fator que aumenta naturalmente o risco de trombose.
Tratamento e acompanhamento
O tratamento depende do diagnóstico individualizado. “Geralmente, utilizamos anticoagulantes, que são aplicados por injeções subcutâneas diárias, ou antiagregantes plaquetários, via oral”, explica o Dr. Bassega. Em gestantes, o protocolo é ainda mais específico, visando proteger tanto a mãe quanto o bebê.
O especialista reforça a importância do planejamento prévio: “O ideal é diagnosticar a trombofilia antes da gravidez. Muitas mulheres só descobrem após duas ou mais perdas gestacionais. Com o diagnóstico em mãos, podemos orientar o uso de medicamentos como a enoxaparina e o ácido acetilsalicílico (AAS) para minimizar os riscos”, diz.
O pré-natal de alto risco é essencial para quem tem a condição. Além disso, o puerpério — o período pós-parto — também exige atenção, já que o risco de trombose permanece elevado.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para garantir uma gestação segura e saudável em mulheres com trombofilia.
