A cada dia, a preocupação excessiva com a aparência se torna mais comum, atingindo níveis alarmantes. O amplo uso das redes sociais intensifica o problema, graças ao uso incessante de câmeras e filtros que transformam nossa imagem. Com isso, crescem as comparações, e as chances de desenvolver algum problema de autoimagem, como a dismorfia corporal.
“Creio que com as redes sociais, a busca por um corpo perfeito, aquela beleza de ‘filtro’, é cada vez maior. E isso pode influenciar negativamente na percepção da imagem corporal. As pessoas se comparam mais com as outras, e querem parecer impecáveis tanto nas redes, quanto na vida real”, afirma a cirurgiã plástica Dra. Thamy Motoki, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
Essa busca pela aparência “perfeita” é perigosa, pois pode se transformar em um sério transtorno psicológico. Quando isso acontece, a pessoa passa a se incomodar, de forma desproporcional, com algo em seu corpo. Seja o nariz, uma marca de expressão, o tamanho de tal parte do corpo, entre diversos outros pontos.
No entanto, muitas vezes essas percepções não são reais, ou então são absolutamente exageradas. Apesar disso, a pessoa passa a se olhar no espelho de maneira obsessiva, ou procura fugir dele. Ela também tenta escapar da vida social e do convívio com as pessoas, acreditando que está feia e fora do padrão.
O que é distorção de imagem
Quando isso acontece é bem provável que esteja ocorrendo um quadro de Dismorfia Corporal, ou Transtorno Dismórfico Corporal, quando a pessoa tem uma preocupação excessiva com o corpo e passa a ver sua imagem de forma distorcida, aponta Thamy. Como informa a especialista, estudiosos estimam que o problema atinja cerca de 4 milhões de pessoas só no Brasil, e até 2% da população mundial.
“A dismorfia corporal é um transtorno psicológico que resulta em um impacto muito negativo para autoestima, além de afetar a vida no trabalho, nos estudos e no convívio em geral com outras pessoas”, pontua a médica. O problema tende a surgir na época da adolescência e é mais frequente entre as mulheres. Isso não seria nenhum segredo, já que a cobrança estética em cima do público feminino sempre foi grande e cruel, salienta Thamy.
De acordo com a cirurgiã, pessoas com dismorfia corporal estão insatisfeitas com o próprio corpo de maneira exagerada, e podem supervalorizar pequenos defeitos transformando isso na causa de todas as suas insatisfações.
O diagnóstico de uma pessoa com transtorno dismórfico corporal, no entanto, nem sempre é imediato. Ao longo das consultas com o médico, o problema pode se revelar através de queixas repetidas direcionadas à determinada área do corpo, demonstrando uma insatisfação permanente com aquela região, ainda que não haja um problema anatômico/ estrutural/funcional importante.
Como saber se tenho distorção de imagem
“O paciente que fica nitidamente ansioso e relaciona seus problemas, e demais insatisfações, àquela tal ‘imperfeição’, ou que tenta atingir determinado padrão de beleza estipulado como ideal, pode estar sofrendo de dismorfia”, aponta a médica.
Além disso, quem apresenta esse quadro, também se afasta do convívio social, especialmente de situações que costumam expor mais o corpo (como ir à praia ou piscina, por exemplo). Também é comum a dificuldade de concentração e olhar-se no espelho com frequência, ou chega a evitar por completo ver sua imagem refletida ali.
A profissional destaca que, apesar de ser ainda pouco abordada, a dismorfia corporal é um problema sério, que precisa ser diagnosticado e tratado antes que gere consequências e traumas ainda piores. É o caso, por exemplo, de cirurgias arriscadas e desnecessárias. Por isso é preciso sempre estar atento aos familiares e amigos à nossa volta e, além disso, procurar tratamento adequado assim que os primeiros sintomas forem notados.
“Meu conselho é: cuide do seu corpo, sem esquecer da sua mente! Corpo saudável e mente saudável devem caminhar juntos. Evite comparações com outras pessoas e procure ajuda especializada com psicólogo e psiquiatra”, orienta Thamy.
Bom senso profissional
A cirurgiã plástica conta que já recebeu em seu consultório muitos pacientes com dismorfia corporal. Segundo ela, o que eles querem é corrigir, através de cirurgias, um problema que nem existe e que está apenas em sua mente.
“A abordagem, nesses casos, não é simples. O próprio paciente não tem noção do seu problema e necessita um olhar cuidadoso, alguém que o ouça e acolha adequadamente. Eu, como cirurgiã plástica, tento mostrar de forma técnica que não há problema, de fato, com o corpo. Ou então que pode estar havendo uma supervalorização de um pequeno problema”, explica.
Ela, inclusive, já se negou a realizar cirurgias em pessoas com esse quadro de distorção de imagem. “É preciso ter bom senso para indicar um procedimento cirúrgico e também para declinar um pedido. E já aconteceu de paciente ficar chateado. Afinal, ele procura uma cirurgiã para operar e não espera, nunca, receber um não. Mas, como disse, é preciso ter bom senso”, ressalta a profissional.