Dor crônica é toda aquela que persiste ou é rotineira em um período de tempo igual ou maior do que três meses. Também se inclui nessa definição aquele desconforto que persiste por mais de um mês após a resolução de uma lesão tecidual aguda ou acompanha uma lesão que não se cura.
A dor crônica pode surgir por diferentes motivos, como tratamento do câncer, lesões, diabetes ou artrite, por exemplo. As formas de combater o problema também são variadas e, entre elas, destaca-se uma alimentação nutritiva e balanceada.
Afinal, a alimentação é um dos princípios básicos para a promoção do bem-estar e também para uma vida mais saudável. E é nesse sentido que diversas pesquisas recentes se debruçaram sobre o poder de uma dieta nutritiva e equilibrada no tratamento da dor crônica.
Segundo a médica intervencionista em dor e autora do livro “Existe vida além da dor”, Dra. Amelie Falconi, a partir desses estudos, já é possível afirmar que a alimentação impacta direta ou indiretamente no desconforto sentido pelo paciente.
“Já está comprovada a associação da alimentação com a fadiga, sono, constipação intestinal e até com saúde mental, componentes de grande influência na dor crônica”, destaca a profissional.
Impacto nos diferentes tipos de dor crônica
Diversas publicações científicas demonstram que uma alimentação adequada auxilia no combate à dor oncológica, diz Amelie.
Isso porque uma dieta saudável previne a perda de massa magra, ajuda a reduzir gordura corporal, proporciona o funcionamento correto do intestino,regula o sono e repõe micro e macronutrientes. Assim, soluciona problemas comuns ao paciente com câncer e em tratamento.
Outra dor crônica que pode se beneficiar de uma alimentação saudável é aquela que atinge as articulações. Ou seja, as dores de joelhos, pés e quadril.
A inflamação do corpo e o surgimento da dor crônica
De acordo com a médica intervencionista, o senso comum relaciona dores desse tipo ao excesso de peso, que sobrecarrega as articulações. E já sabemos que o sobrepeso, por sua vez, é decorrente da má alimentação.
No entanto, uma dieta inadequada pode levar a dores nos joelhos, pés ou quadril por conta da inflamação do organismo que ela proporciona, pondera a Dra. Amelie.
Essa inflamação ocorre quando as células do sistema imunológico respondem a uma infinidade de agressões ao organismo. Entre eles, está o estresse oxidativo, consequência de uma dieta não saudável.
“Essa inflamação aguda aumenta a dor. O mesmo acontece com a inflamação crônica derivada de estilos de vida como tabagismo, falta de atividade física, ingestão de álcool, má alimentação etc”, diz a especialista. A consequência é hipersensibilidade e dor persistentes, além de diversas outras doenças crônicas.
Isso porque a inflamação do organismo libera diversas substâncias no corpo, chamadas de mediadores inflamatórios. Eles são responsáveis por ativar os receptores de dor de maneira contínua, explica a médica.
“Estes, quando se ativam, liberam mais mediadores inflamatórios, ocorrendo assim retroalimentação entre a dor crônica e a neuroinflamação”, complementa.
A importância da saúde do intestino
Já entendemos o papel dos mediadores inflamatórios na produção e manutenção da dor crônica. Agora, é importante destacar que, tão importante quanto o cérebro neste processo, o intestino também desempenha uma função crucial.
“Trata-se do órgão que apresenta o mais complexo e populoso sistema microecológico de nosso corpo, com cada microrganismo sendo responsável pela liberação de diversas substâncias mediadoras”, destaca Amelie.
A ciência também se propôs a entender a relação entre o intestino e os processos que levam ao aparecimento da dor. Isso ficou evidente quando os cientistas levaram em consideração o impacto do sistema gastrointestinal e da microbiota na fisiologia do sistema nervoso central.
Alimentação saudável na prática: o que colocar no prato?
E, para cuidar da saúde intestinal, nada melhor do que prezar por uma alimentação nutritiva e balanceada. Isso significa consumir alimentos anti-inflamatórios, como frutas e vegetais, que contém muitas vitaminas, minerais e antioxidantes. Além disso, a ingestão de leguminosas, ovos e carnes (principalmente brancas e grelhadas), também é indicada.
Amelie lembra que uma dieta com alto teor nutritivo restringe a ingestão de alimentos industrializados, aqueles processados e ultraprocessados. Isso porque eles passam pela adição de diversas substâncias nocivas à saúde, como o açúcar.
“O consumo exagerado de alimentos de alto índice glicêmicos pode contribuir para o estresse oxidativo e inflamação crônica que, como vimos, levam à dor crônica”, reforça a médica.
Água faz parte de uma alimentação saudável – e do combate à dor
Para combater a dor crônica,também é recomendável beber bastante água. “A hidratação adequada é essencial para o funcionamento de todo o organismo e sua falta causa ou piora dores de cabeça e musculares, cansaço, intestino preso, dificuldade concentração, irritabilidade, redução da força muscular e outras queixas comuns entre pacientes com dores crônicas”, diz a Dra. Amelie.
Segundo a médica intervencionista em dor, a desidratação provoca aumento da atividade cerebral que se relaciona com estímulos dolorosos, justamente por causa do aumento da sede. Já a reidratação, ao aliviar a sede, diminui a atividade cerebral relacionada ao estímulo doloroso.
“Além disso, ingerir água adequadamente contribui para a eliminação de toxinas e funcionamento adequado do intestino, o que previne a inflamação crônica do organismo e consequentemente a dor crônica”, finaliza a especialista.