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Medo de engravidar? Entenda o que é a tocofobia

Jovens mulheres relatam como a ideia da gestação e do parto se tornou um pesadelo em suas vidas — condição conhecida como tocofobia

Medo de engravidar? Entenda o que é a tocofobia
Medo de engravidar? Entenda o que é a tocofobia - Foto: Shutterstock

Algumas mulheres têm o grande sonho de engravidar e dar à luz. Para outras, no entanto, apenas a ideia da gestação é um verdadeiro pesadelo. Esses casos são chamados de tocofobia — o medo exagerado e irracional de engravidar e parir.

O medo de engravidar

Caroline Roxo, de 28 anos, é um exemplo de como esse medo pode perdurar na vida de uma mulher. Ela afirma que desde que iniciou a vida sexual, ainda na adolescência, sente um temor anormal de engravidar. “Só de imaginar a possibilidade eu começava a ter crises de ansiedade e tentar pensar em alternativas para me livrar disso de alguma forma. Me imaginar grávida não passa na minha cabeça, é uma coisa surreal”, relata.

Aliás, essa já foi uma questão problemática em relacionamentos amorosos. Carol conta que sempre manteve relações com pessoas que queriam ter filhos, e ela esperava que um dia a vontade fosse surgir com a idade. No entanto, o desejo de ser mãe nunca veio. Hoje, aos 28 anos, ela conta que a pressão maior vem de seus pais, que desejam ser avós. Porém, ela é filha única, e lida sozinha com essa questão. “Talvez eu precise procurar um especialista para entender o porquê dessa negação. E quanto mais a idade vai chegando, mais eu vejo que não chega junto o instinto materno, eu acho que eu preciso entender o porquê”, afirma.

Cuidado com a saúde mental

É o que fez Ana Beatriz Nóbrega, de 21 anos. Ela já faz acompanhamento psicológico por conta do diagnóstico de ansiedade generalizada, mas a terapia também a ajuda a compreender esse medo de uma gestação. “Acho muito importante quando esse medo é tão grande que impacta a vida da pessoa ela procurar uma ajuda profissional, pois em vários momentos me encontrei sem saber o que fazer de tanto medo da gravidez, tanto que eu não conseguia seguir com minha vida normal”, afirma.

Ana sofre com SOP (síndrome do ovário policístico), por conta disso sua menstruação costuma atrasar e ser bastante desregulada. “Nesse processo eu sempre tenho algumas crises achando que engravidei. Já tive crises de ansiedade e de pânico causadas pelo medo, e porque eu associo a gestação a uma sentença de morte, basicamente. Tenho problemas relacionados à gestação e apenas a ideia de estar gestante me deixa incomodada. É um medo que eu tinha desde bem nova e que cresceu com o tempo, e atualmente não consigo nem pensar na possibilidade sem desenvolver sintomas ansiosos”, conta a jovem.

O que é a tocofobia?

A tocofobia se caracteriza como um medo excessivo de engravidar e gerar a vida. Essa fobia pode não estar relacionada apenas ao parto em si, mas todo o universo que engloba o gestar, desde a própria gestação, o procedimento cirúrgico e o pós parto, explica a psicanalista Dra. Andréa Ladislau.

“Quem sofre desse problema relata ter sensações de fobia da morte em apenas imaginar estar grávida e ter o parto e com isso, começa a ter dificuldade em seguir a vida de forma saudável e equilibrada, tendo déficits em atividades básicas. Além disso, crises de ansiedade e elevado estresse fazem parte deste contexto da tocofobia”, acrescenta a especialista. 

Segundo ela, esse pavor pode ter causas enraizadas em traumas psicológicos advindos de históricos de abusos sexuais, perdas gestacionais, relacionamentos tóxicos, vivências familiares na infância que causaram dores emocionais, entre outras. 

Atitudes arriscadas

Andréa destaca que o pavor em engravidar e ter que parir é tão grande, em muitos casos, que algumas mulheres que sofrem com a tocofobia, podem buscar receitas milagrosas ou métodos experimentais para dificultar a iminência de uma gestação. É o caso, por exemplo, de chás duvidosos e abortivos, uso irresponsável da pílula do dia seguinte, tampões não recomendados pelos médicos, remédios abortivos e rejeição ao sexo.

Luara Lua Pereira, de 31 anos, conta que já tomou diversos chás que prometem adiantar a menstruação. Ela também já diminuiu frequência de relações sexuais com o objetivo de evitar ao máximo uma possível gravidez. Mirella Ferreira, de 21 anos, também já recorreu aos “chás abortivos”, além de tomar pílula do dia seguinte sem necessidade — tudo para garantir que não houve fecundação após a relação sexual.

Da mesma forma, Caroline recorreu às pílulas do dia seguinte de maneira indiscriminada. Chegou ao ponto em que ela ficou preocupada com a própria saúde. O medicamento possui uma forte concentração de hormônios, capaz de desregular o ciclo feminino. Além disso, ele perde a eficácia conforme é tomado com frequência.

A psicanalista ressalta que essas atitudes são bastante arriscadas para a saúde da mulher. “Em alguns casos, temos relatos de mutilações femininas, desenvolvimento de doenças emocionais e físicas severas, e em casos extremos, até risco de morte”, adverte.

O maior risco, segundo a profissional, está na desinformação. “Os riscos de gestação e de parto são inerentes ao ser humano. Se a mulher se cuida, tem acompanhamento regular de um bom profissional de saúde, os riscos de vir a ter um problema, são minimizados. O que não pode é consumir informações falsas, se informar por redes sociais ou mesmo se prender a exemplos alheios”, destaca.

Mulheres que simplesmente não querem engravidar

A sociedade precisa entender que algumas mulheres não querem ser mães — e não tem nada de errado nisso, afirma Rafaela Monteiro, de 23 anos. A jovem não costuma confiar em contraceptivos no geral, e aguarda ansiosa pela realização da sua laqueadura (cuja legislação passou por reformulação recente).

Mesmo com sinais de tocofobia, Rafaela não busca tratamento porque já tomou sua decisão. “Eu nunca procurei nenhum especialista pra isso porque eu só não quero ter filho. Como nenhum método contraceptivo é 100% eficaz, eu vou viver com esse medo até fazer a minha laqueadura, porque é a minha maior vontade do mundo é fazer minha laqueadura. Então, eu não quero mudar minha linha de pensamento, eu não quero passar a querer uma maternidade”, afirma.

Segundo ela, é preciso tirar a responsabilidade da maternidade de cima da mulher. Caroline concorda: “A gente está inserida em uma sociedade que dita que a mulher é feliz quando ela tem uma família e um casamento bem sucedido. Tanto que mulheres que se divorciam, ou que são traídas, ou que precisam romper um casamento, às vezes caem em uma depressão, em uma crise de autoestima. Muitas vezes pela dor de tudo isso causado, mas outras também por conta da sociedade que impõe que isso é a felicidade. É como se elas tivessem sido mal sucedidas na vida. E isso não é real”.

Carol lembra do fim do casamento de Fábio Porchat — decisão que foi anunciada recentemente, e teve como motivo o fato dele não querer ser pai. “Ninguém julga isso, ninguém julga ele. Tá bom, ele quer investir na carreira dele, e está tudo bem. Quando é do lado da mulher, isso é um absurdo”, contesta.

É possível tratar a tocofobia?

Para as mulheres que desejam engravidar apesar de todos os medos, há saída. “O ideal é, antes de decidir engravidar, buscar o apoio de um obstetra de confiança e fazer terapia. Ao menor sinal de que um medo está se instalando, é preciso comunicar ao médico e também ao profissional de saúde mental para que possa desativar o gatilho que leva a tocofobia, para descobrir a raiz do problema e também fornecer ferramentas para que essa mulher possa se fortalecer e enxergar a maternidade com um olhar mais leve e empoderado no sentido de que ela está gerando uma vida”, explica Andréa Ladislau.

Para a psicanalista, o autoconhecimento é a chave — e também a base de tudo. “Se conhecendo e entendendo suas fraquezas, suas forças, fica mais fácil para essa mulher eliminar e não deixar o medo se instalar. Principalmente, se ela sofreu algum tipo de situação traumática que tenha desencadeado o transtorno da tocofobia. Acrescento também a necessidade de informação de qualidade para não ficar presa em fake News sobre o assunto em questão”, destaca.

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