Hoje é o Dia Nacional da Tontura (22/04), sintoma muitas vezes negligenciado, mas que pode indicar problemas sérios de saúde. O problema é um sintoma comum de diversas doenças que afetam o ouvido e não apenas da labirintite, cujo diagnóstico é menos frequente do que se imagina.
Aliás, a ausência de sintomas auditivos já é sinal de que, provavelmente, não se trata de labirintite. “A tontura é realmente um dos sintomas da labirintite e de diversas outras doenças. E é muito comum que as pessoas cheguem ao consultório já certas do seu diagnóstico. Porém, são poucos os casos em que essa suspeita se confirma”, explica a otoneurologista Dra. Nathália Prudencio.
A labirintite, na verdade, é um quadro raro. Por isso, o mais provável é que a tontura ou vertigem esteja relacionada a outras condições, aponta a médica.
O que é labirintite
Segundo a especialista, a labirintite é uma condição caracterizada por uma inflamação ou infecção do labirinto, localizado na orelha interna. E como o labirinto é responsável pela audição e pelo equilíbrio, a tontura pode surgir.
“Geralmente, a labirintite é consequência de uma infecção na orelha média, de uma meningite ou até de uma infecção de vias aéreas superiores. Porém, hoje temos tratamentos muito eficazes para essas infecções que podem ser administrados precocemente, resolvendo o problema em alguns dias”, diz a especialista.
Portanto, dificilmente essa infecção evolui e acomete o labirinto. “Por isso, o diagnóstico de labirintite é raro, já que são poucos os casos que evoluem a esse ponto”, afirma.
Segundo a médica, o surgimento de tontura de maneira isolada, sem qualquer outro sintoma associado, já é um bom indício de que o problema não se resume à labirintite. Isso porque, apesar da tontura ser o sintoma mais comum, a labirintite também vem acompanhada outras alterações. É o caso de náuseas e vômitos, vertigem, suor, zumbido no ouvido, perda de audição ou nistagmo, que são pequenos movimentos involuntários dos olhos.
Possíveis causas para a tontura
No entanto, vale lembrar que, mesmo que não esteja associada a sintomas auditivos, a tontura nunca deve ser ignorada. “Preste atenção nos diferentes aspectos da tontura. Ela é breve ou prolongada? Trata-se de um caso isolado ou as crises surgem com frequência? Tem algum sintoma associado? Há algum gatilho?”, pontua a Dra. Nathália.
Conforme a especialista, o mais provável é que quadros de tontura e vertigem estejam relacionados a outras doenças do ouvido interno, como a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB). Popularmente conhecida como tontura dos cristais ou labirintite dos cristais, apesar de não terem relação, essa doença causa vertigens frequentes que surgem quando o paciente faz movimentos com a cabeça, por exemplo, ao se levantar e ao se deitar na cama.
“Ela recebe esse nome de tontura dos cristais pois ocorre quando os otólitos, pequenos cristais envolvidos no equilíbrio e localizados no labirinto, se desprendem, geralmente, de forma espontânea. Isso gera o quadro de vertigem que dura alguns segundos com a movimentação da cabeça”, explica a especialista. Nathália aponta ainda que Enxaqueca Vestibular, Neurite Vestibular e Doença de Ménière como outras possíveis causas da tontura.
Quando se preocupar?
A otoneurologista afirma que uma tontura única e isolada, que não dura mais de um minuto e não é acompanhada de outros sintomas, não é motivo de preocupação. “Muitas pessoas podem sofrer com episódios isolados de tontura devido a fatores como jejum, dias muito quentes, falta de hidratação e excesso de esforço físico”, diz a especialista.
Porém, se essa tontura é persistente ou recorrente, é importante investigar. “Sentir tontura com frequência nunca é normal. É um sintoma que pode prejudicar seriamente a qualidade de vida do paciente, aumentando o risco de quedas e criando dificuldades no dia a dia”, afirma.
Por exemplo, algumas pessoas sentem tontura simplesmente ao levantar da cama, o que pode ser uma tontura ortostática causada por uma queda repentina da pressão arterial ao mudar de posição. Outras pessoas podem sentir vertigem, além de enjoo e dores de cabeça, durante viagens, o que chamamos de cinetose.
“Então, devemos sempre buscar a causa dessa tontura, que pode envolver, além de problemas no ouvido, doenças neurológicas e cardíacas, alterações sistêmicas, efeitos colaterais de medicações, entre diversos outros fatores”, alerta.
Idosos são os que mais sofrem com tontura
Tontura, desequilíbrio e vertigem são queixas de saúde comuns da população idosa, que soma mais de 32 milhões de pessoas no Brasil, segundo o IBGE. E, quanto mais avançada a idade, maior é a prevalência desses sintomas, alerta a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).
Estudos brasileiros indicam que 45% dos idosos convivem com a tontura e que pelo menos 80% das pessoas acima de 75 anos já tenham vivenciado algum episódio do tipo. O Dr. Márcio Salmito, presidente da Academia Brasileira de Otoneurologia, destaca que a alteração no equilíbrio corresponde a 85% das causas de quedas de pessoas com 65 anos ou mais, conforme pesquisas médicas.
“A tontura piora a qualidade de vida em qualquer idade, mas o que mais preocupa em relação a esse quadro em idosos é provocar quedas. Esse tipo de acidente é a terceira causa de mortalidade entre as pessoas com mais de 65 anos no Brasil, segundo Ministério da Saúde. Além disso, o número de mortes de idosos tendo como consequência a queda praticamente duplicou entre 2013 e 2022”, revela o médico.
O profissional enfatiza que “a população idosa está crescendo e vivendo mais. “Por isso, é fundamental uma melhor compreensão dos distúrbios de equilíbrio desse grupo, garantindo conhecimento, acessibilidade e tratamento para que se obtenha qualidade de vida, independência e autonomia a este que tende a se tornar majoritário em nosso país” finaliza o presidente da Academia Brasileira de Otoneurologia da ABORL-CCF.