Será que o whey protein dá acne? A creatina engorda, dá pedra nos rins ou faz o cabelo cair? Não importa o tipo, os suplementos mais comuns nas academias sempre geram dúvidas em quem está começando a se preocupar com os treinos e a alimentação.
Para esclarecer os mitos e perguntas que geram produtos como o whey, a creatina, a cafeína e o ômega-3, convidamos três médicas em diferentes áreas para colocar um fim às dúvidas e fake news. Confira:
Whey protein é um anabolizante?
Não. Whey protein é a proteína do soro do leite, que ajuda na reparação dos músculos depois da atividade física. “Whey protein é um suplemento proteico enquanto anabolizantes são hormônios androgênicos que estimulam o desenvolvimento de alguns tecidos corporais. Portanto, são substâncias totalmente diferentes”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Whey protein causa acne?
Depende. Segundo a Dra. Cintia Guedes, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), antes de falar dessa relação entre acne e whey protein, é necessário pontuar que a acne é um problema multifatorial, causado por uma inflamação na glândula sebácea.
“Vamos relembrar, também, que há uma relação entre consumo de leite e acne, em indivíduos predispostos, uma vez que a proteína do leite pode aumentar a secreção sebácea. Uma dose de whey protein oriundo da proteína do leite pode equivaler de 6 a 12 litros de leite. Sendo assim, irá aumentar consideravelmente a produção da glândula sebácea, culminando em uma piora do quadro de acne em quem já tem o problema, ou contribuindo para o aparecimento de lesões semelhantes à acne – acneiformes – em indivíduos que não possuem tendência à acne”, esclarece a médica.
Ela ainda afirma que, se o problema aparecer, o paciente pode substituir o whey protein oriundo da proteína do leite pelo beef protein (proteína da carne) ou suplemento de proteína de origem vegana. “E, claro, tratar a acne e corrigir as outras possíveis causas”, explica a Dra. Cintia.
Intolerantes à lactose podem tomar whey protein?
Sim. Segundo a Dra. Marcella, na verdade, os intolerantes a lactose não podem tomar qualquer whey protein, isso por que a forma concentrada (o tipo mais comum vendido) contém lactose. Então, eles devem escolher a forma isolada, com zero de lactose na composição, informação que deve estar presente no rótulo do produto.
“Pessoas com muita sensibilidade a derivados lácteos, com indicação de suplementos proteicos, podem optar por outras fontes como beef protein, de carne, e a proteína em pó vegana, de leguminosas”, diz a médica nutróloga.
O consumo do whey protein pode ser feito mesmo por quem não treina?
Sim. Whey protein é uma proteína em pó e, como tal, pode ser usada se as necessidades proteicas diárias não forem atingidas através da alimentação, ou para adicionar uma opção prática proteica em lanches e refeições intermediárias.
“Independentemente de ir à academia ou não, esse suplemento pode ser bem-vindo, sem exageros, na rotina de qualquer pessoa que não tenha contraindicação. Inclusive, é um suplemento de grande valia para prevenir e ajudar a tratar a sarcopenia, auxiliando na manutenção da massa magra, freando a perda de músculos que ocorre com o avanço da idade”, explica a Dra. Marcella.
Creatina engorda?
Não. “A creatina é um aminoácido, que se encontra no organismo, que é capaz de sintetizá-lo, em alimentos proteicos e suplementos ergogênicos. O principal destino da creatina é o tecido muscular esquelético onde constitui fonte de geração de energia”, explica a Dra. Marcella Garcez.
“Como suplemento, parece não aumentar a concentração de ATP muscular de repouso, mas ajuda manter os níveis de ATP durante um esforço físico máximo, portanto seu efeito depende de treino. A creatina não engorda, pois não aumenta a quantidade de gordura corporal, porém pode levar ao aumento de peso, porque com treino e dieta adequada os músculos devem hipertrofiar, o que resulta em ganho ponderal. O aumento de níveis circulantes de creatina nos músculos pode elevar a quantidade de água dentro deles, que deve impactar no volume e peso tecidual”, esclarece a médica nutróloga.
A especialista lembra que aumento de peso em virtude de acréscimo de massa magra não é o mesmo que aumento de gordura.
Creatina faz o cabelo cair?
Não. A creatina é um dos suplementos mais queridos dos frequentadores de academias pela sua associação com o aumento de força e redução do tempo de recuperação muscular. No entanto, um estudo publicado em 2009, envolvendo jogadores de rugby que usaram creatina por 3 semanas, associou o produto à calvície.
Nesses atletas, houve aumento da di-hidrotestosterona (DHT), substância parte do mecanismo que leva à calvície. Por isso, supôs-se que o uso de creatina seria capaz de piorar esta condição. Porém, não se sabe se os atletas concomitantemente usaram algum esteroide anabólico ou outros suplementos, se esse aumento de DHT levou a um avanço no quadro de calvície dos atletas geneticamente predispostos ou se esse aumento também ocorreria em não atletas.
“Portanto, até o presente momento, não há como comprovar essa relação entre creatina e calvície. Por esse motivo, pode ser utilizado por pacientes com diferentes graus de calvície”, destaca a Dra. Cintia Guedes.
Creatina dá pedra nos rins?
Não. A creatina é um aminoácido que geralmente existe nos nossos músculos e no cérebro. Ela fica armazenada como fosfocreatina e serve como fonte de energia, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira.
“As pessoas tomam creatina para melhorar a massa muscular e a performance atlética. As evidências atuais nos indicam que tomar creatinina nas doses adequadas é seguro do ponto de vista renal. Os suplementos de creatina aumentam os níveis de creatinina laboratorialmente, mas não a função renal em si. Da mesma forma, os cálculos renais não ocorrem mais em quem toma este tipo de suplemento”, esclarece a médica nefrologista.
Cafeína pode fazer mal aos hipertensos?
Sim. A Dra. Marcella alerta que a cafeína é um composto bioativo estimulante, que pode aumentar a resistência vascular e a dificultar o fluxo nos vasos por provocar vasoconstrição, que resulta em aumento da pressão arterial.
“A Food and Drug Administration considera uma dose de até 400 mg de cafeína ao dia segura (4 a 5 xícaras). Altas doses, porém, podem levar ao aumento da pressão arterial, palpitações e insônia. O ideal é manter o consumo moderado de cafeína em pacientes hipertensos”, recomenda a Dra. Caroline Reigada.
Cafeína emagrece?
Depende. De acordo com a médica nutróloga, esta crença é uma verdade e um mito ao mesmo tempo. “A cafeína é uma substância com atividade ergogênica, pois auxilia no aumento da performance física, e termogênica, porque pode ajudar a aumentar o gasto energético adaptativo, durante a prática de atividades físicas ou no processo digestivo. Deste modo pode ser uma estratégia complementar nos tratamentos para perda de peso. Porém a cafeína, isoladamente, não é capaz de promover emagrecimento”, afirma.
Portanto, o ideal é combiná-la com exercícios e estar em déficit calórico (comer menos do que o corpo gasta) para emagrecer, destaca a médica.
Ômega-3 previne lesões?
Não. A suplementação de ômega-3 em praticantes de atividades físicas pode ter impactos positivos nos indicadores bioquímicos do metabolismo lipídico, influenciar na redução de lipoproteínas plasmáticas e na prevenção de doenças cardiovasculares, segundo a Dra. Marcella.
“Há indícios de que o uso dos ácidos graxos ômega 3 pode ajudar a atenuar os efeitos de processos inflamatórios em lesões musculares, porque ajudam a reduzir a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Mas o simples fato de consumir ômega-3 não irá prevenir a ocorrência de lesões”, explica a médica nutróloga.
Portanto, para evitar lesões, preze sempre pela execução adequada ao realizar um exercício e tenha sempre orientação de um profissional de Educação Física.