Você provavelmente aproveitou essa Páscoa para saborear seus chocolates preferidos. A depender do tipo, o impacto na saúde pode ser positivo ou negativo. No caso do chocolate branco, por exemplo, o valor nutricional do alimento é quase nulo. Já o chocolate amargo, por outro lado, promove incríveis benefícios ao organismo.
A explicação para isso é a presença do cacau. Quanto maior o percentual dele no chocolate, mais saudável, mais escuro e mais amargo é o alimento. Uma revisão publicada no final de 2019 no International Journal of Environmental Research and Public Health apontou que esse tipo de chocolate tem benefícios relacionados às ações anti-inflamatória, antioxidante e vasculotônica, aponta a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Seria ótimo se o nosso paladar fosse educado ao cacau 100%. No entanto, a amargura causada pelos polifenóis torna os grãos de cacau não processados bastante desagradáveis. “Os fabricantes, portanto, desenvolveram técnicas de processamento para eliminar o amargor. Eles criaram chocolates com menor teor de cacau (ao leite, com oleaginosas, meio amargo e o branco)”, comenta Marcella.
Segundo ela, tais processos reduzem o conteúdo de polifenóis em até 10 vezes. “Os polifenóis estão associados aos efeitos benéficos. Portanto, o cacau e o chocolate amargo (aquele que traz o cacau como primeiro item da lista de ingredientes no verso da embalagem) assumiram importância significativa e podem ser adicionados ao hábito alimentar com efeitos nutritivos e funcionais”, diz a Dra. Marcella.
10 razões para continuar comendo chocolate amargo
Com a ajuda de especialistas, listamos 10 motivos relacionados à saúde para consumir o chocolate amargo. Confira:
Efeitos cardiovasculares
O cacau pode promover uma série de benefícios para o sistema cardiovascular. “Os chocolates com maior concentração de cacau têm ação vasodilatadora, melhoram a função vascular e contam com atividades antiplaquetárias, prevenindo a formação de placa de gordura dentro das artérias”, explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da diretoria (comissão de marketing) da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV).
“Esses benefícios têm forte relação com a presença dos flavonoides, que são anti-inflamatórios e antioxidantes. Em adultos jovens e saudáveis, uma ingestão diária de 20g de chocolate de cacau mais alto (90%) por um período de 30 dias melhorou a função vascular, reduzindo as pressões da artéria braquial central e promovendo o relaxamento vascular. Além disso, um estudo prospectivo sueco relacionou o consumo de chocolate com menor risco de infarto do miocárdio e doença cardíaca isquêmica”, afirma a Dra. Marcella.
Antidiabético
Os componentes do cacau oferecem importante ação como agentes antidiabéticos, especialmente com a diabetes mellitus tipo 2 (T2D). “Esse aspecto é de particular relevância devido à emergente epidemia mundial de síndrome metabólica, que inclui obesidade, diabetes e dislipidemia. O cacau e seus flavonóides melhoram a homeostase da glicose, retardando a digestão e absorção de carboidratos no intestino”, afirma a médica nutróloga.
Contra obesidade
Recentemente, estudos investigaram os efeitos preventivos ou terapêuticos do cacau e de seus constituintes contra a obesidade e a síndrome metabólica. Na revisão desses relatos, os autores citam estudos que observaram uma redução na expressão de vários genes associados ao metabolismo e armazenamento de gorduras, além de aumentar a expressão de genes associados à termogênese.
“Em um estudo clínico, o cheiro de chocolate amargo foi avaliado para avaliar a resposta do apetite. O chocolate produziu uma resposta de saciedade, reduzindo o apetite; portanto, poderia ser útil na prevenção do ganho de peso. Além disso, os flavonoides podem produzir eventos metabólicos que induzem a lipólise (quebra de gordura); tais eventos reduzem a deposição lipídica e a resistência à insulina”, afirma a médica.
Melhora da microbiota intestinal
Nos últimos anos, há um interesse crescente nos estudos da microbiota intestinal e suas alterações como resultado dos hábitos alimentares. O intestino humano hospeda a microbiota intestinal, uma enorme coleção de microrganismos com papel fundamental no armazenamento de energia e distúrbios metabólicos.
“Em um estudo de intervenção humana, projetado para investigar a influência da alta ingestão de flavonoides de cacau no crescimento da microbiota fecal humana, os autores avaliaram que a ingestão de 494 mg de flavonoides de cacau/dia por quatro semanas teve um efeito significativo no desenvolvimento da microbiota intestinal”, explica a Dra. Marcella.
Fortalece o sistema imunológico
Estudos in vivo e in vitro mostraram que o cacau possui propriedades regulatórias nas células imunes implicadas na imunidade inata e adquirida. “Os efeitos positivos dos flavonoides de cacau no sistema imunológico, por vários mecanismos, são conhecidos como a redução da liberação de mediadores, a restauração do equilíbrio das células e a regulação negativa de produção de imunoglobulinas”, explica a nutróloga.
Proporciona benefícios ao Sistema Nervoso Central
Existem evidências de impactos benéficos do chocolate amargo no sistema nervoso central. “Os polifenóis do chocolate preto podem atuar no sistema nervoso central (SNC) e nas funções neurológicas através da liberação de óxido nítrico, responsável pela vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral que fornece oxigênio e glicose aos neurônios, levando ao aumento na formação e manutenção de vasos sanguíneos no hipocampo. Além disso, o potencial antioxidante dependente do polifenol pode contribuir para a melhora de alguns distúrbios neurodegenerativos”, afirma a médica.
Estímulo à felicidade
Segundo estudos, a ingestão de chocolate está ligada também a aspectos emocionais, ao aumentar a síntese cerebral de serotonina, o famoso hormônio da felicidade e que produz uma sensação de energia e prazer. No entanto, é necessário ter cautela no consumo de chocolates com teor maior de açúcar, uma vez que os carboidratos também estão envolvidos nesse processo em um primeiro momento, mas seu excesso também pode causar distúrbios metabólicos e elevar a sensação de culpa.
Poder sobre aspectos sexuais
O chocolate exerce vários efeitos sobre a sexualidade humana, atuando principalmente como afrodisíaco. “O cacau em pó e o chocolate contém substâncias que, em conjunto com outros componentes do chocolate (como cafeína e teobromina), produzem uma sensação transitória de bem-estar. O principal componente da excitação sexual é a vasocongestão periférica dos tecidos genitais, pelo aumento dos níveis de óxido nítrico; assim, juntamente com a serotonina, com produção aumentada após o consumo de cacau, pode estar envolvido no processo de estímulo sexual”, esclarece Marcella.
Prevenção da anemia
Rico em ferro, o cacau (assim como o chocolate amargo) pode ajudar a prevenir a anemia. “O ferro é essencial para a formação da hemoglobina, que é um componente das hemácias responsável pelo transporte de oxigênio para o organismo e que normalmente está em menores quantidades em caso de anemia”, explica a médica. Enquanto 100g de cacau contam com 13,9 mg de ferro, cada 100g de feijão, geralmente citado como uma boa fonte desse mineral, possui 5,1mg.
Efeito anti-idade na pele
De acordo com a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o chocolate amargo não causa espinhas, ao contrário do que muitos acreditam. “Devido à alta concentração de cacau em sua fórmula, o chocolate amargo é, na verdade, um aliado da saúde da pele, pois suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias ajudam a conferir luminosidade e hidratação ao tecido cutâneo, além de auxiliarem na proteção aos danos dos raios UV, prevenir rugas e combater os radicais livres”, destaca a dermatologista.
Chocolate amargo é bom, mas nada de excessos
Atenção! Mesmo que você opte pelo chocolate amargo é importante tomar cuidado com o consumo excessivo, pois, independentemente da concentração de cacau, o chocolate ainda tem açúcar e gorduras saturadas. No final das contas, é importante controlar o consumo diário.
Para obter os benefícios, o ideal é consumir entre 25 g a 50 g de chocolate ao dia, dando preferência às opções com maior concentração de cacau, como os chocolates mais amargos.