Volta e meia o debate acerca dos malefícios causados pelos videogames volta a aparecer. A cada geração que passa, o hábito de jogar jogos eletrônicos apenas aumenta. Afinal, vamos ser sinceros, esses jogos proporcionam diversão, são uma boa fonte de distração e alguns deles podem até estimular a prática de atividades físicas – claro, quando se trata da realidade virtual que permite o movimento dos jogadores. No entanto, assim como tudo na vida, é preciso moderação.
Um estudo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), publicado pela revista científica National Library of Medicine, concluiu que 28% dos jovens brasileiros fazem uso abusivo de videogames. Vale destacar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) enquadra o uso excessivo de videogames como um distúrbio psíquico nomeado como Transtorno de Jogo pela Internet (TJI).
A definição da OMS não é à toa, visto que o uso excessivo de videogames pode trazer malefícios à saúde, como apontam os especialistas. Confira os principais prejuízos ao organismo e ao bem-estar:
Má postura
O Dr. Guilherme Rossoni, neurocirurgião e especialista em tratamento de doenças da coluna, afirma que o principal erro dos jogadores de videogame é manter a mesma postura durante todo o tempo.
“É fundamental que os jogadores, principalmente os gamers que passam muito tempo nos jogos, realizem atividades físicas para fortalecer a musculatura, fazendo pausas para alongar, mexer o corpo e corrigir a postura quando perceber que está corcunda”, destaca.
Isso porque passar muito tempo na mesma posição, principalmente em uma posição incorreta, de má postura, pode trazer diversos problemas. É o caso, por exemplo, de hérnia de disco, dores lombares, cifose postural, dor de cabeça tensional, hiperlordose lombar, escoliose entre outros problemas.
Saúde mental
Para a psicóloga Luciene Gomes, especialista em educação cognitiva, o cuidado com excesso do uso de videogames é fundamental para não gerar problemas à saúde mental. “É preciso estar atento quanto à quantidade de horas que o indivíduo fica exposto ao jogo”, alerta.
“Considero um prejuízo à saúde mental quando a pessoa deixa de executar sua rotina como, dormir, comer, sair com amigos ou faltar ao trabalho para se dedicar ao videogame. O abuso dos jogos podem gerar problemas relacionados a baixa tolerância a frustrações, crises de ansiedade e problemas com a falta de habilidade em socialização”, acrescenta a profissional.
Problemas de visão
De acordo com Marcelo Cavalcante Costa, oftalmologista e especialista em Retina Infantil da Maternidade São Luiz Star, é importante estar ciente dos possíveis riscos para a sua visão.
“A exposição prolongada à tela pode resultar em fadiga ocular. Ela pode se manifestar como uma irritação, às vezes olho vermelho, uma sensação de olho seco e até visão embaçada, que normalmente aparecem no final do dia. Além disso, muito tempo de exposição às telas pode causar o que chamamos de síndrome visual do computador, que é uma preocupação real”, alerta o oftalmologista.
Segundo ele, é importante entender que o olho tem que estar sempre lubrificado. “Essa lubrificação acontece por meio do ato de piscar. O que geralmente acontece é que, quando ficamos muito tempo olhando uma tela, esquecemos de piscar, prejudicando a lubrificação”, afirma.
Outra questão apontada pelo especialista é a miopia. Conforme o médico, vários estudos indicam que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode aumentar o risco de desenvolver esse problema ocular, principalmente em crianças.
“Faça pausas regulares: a cada 20/30 minutos, desvie o olhar da tela por alguns minutos para descansar. Você pode usar uma regra simples, conhecida como 20-20-20, que é a seguinte: a cada 20 minutos olhe para algo a 20 pés (cerca de 6 metros), por pelo menos 20 segundos”, orienta o Dr. Marcelo.
Vício
O Dr. Guilherme Rossoni explica que dentro do nosso cérebro existem três áreas específicas chamadas de córtex pré frontal, córtex frontal e ínsula. Elas são responsáveis pela memória, reações das emoções, controle das emoções e tomadas de decisões e do juízo.
“Estudos mais recentes mostram que as pessoas são geneticamente mais suscetíveis nessas três áreas do cérebro. Além disso, esses indivíduos apresentam uma maior produção de substâncias como a dopamina e adrenalina, substâncias envolvidas no mecanismo de recompensa”, afirma.
Portanto, o aumento da produção da dopamina, aliada a uma resposta exacerbada de euforia que é compensada pelo prazer de jogar, acaba aumentando as chances desse indivíduo passar horas jogando de formas repetitivas e diminui os centros cerebrais inibidores das tomadas de decisões, revela o médico.
“Se você entender que esse tipo de comportamento já fugiu do controle, o ideal é você procurar ajuda de um especialista para que tenha o acompanhamento e tratamento adequado”, destaca.
Estresse
Para a psicanalista Elizandra Souza, problemas como ansiedade, depressão e estresse estão atrelados aos malefícios que o uso excessivo de videogames pode causar. “Dependendo da relação que a pessoa tem com o jogo e com sua própria vida, o videogame fica como único instrumento de escape. Escape do mundo e, por vezes, de si mesmo”, afirma.
Por isso, segundo ela, o videogame pode ser tanto uma descarga de estresse, como um causador de estresse. “Na fase em que o jogo é distração, a função de descarga de estresse é mais evidente. Mas essa mesma sensação de prazer, justamente pela diversão, pode gerar uma espécie de vício inicial, que posteriormente será o gerador de estresse, seja pela dependência, seja pelos problemas já mencionados. O estresse é um desgaste emocional e psicológico que aparece, principalmente quando a pessoa vive situações excessivas”, explica.
Reconhecendo os excessos
Para amenizar os malefícios, é fundamental reconhecer que existem problemas nesse excesso. “É necessário que a pessoa se dê conta de que existe um problema e existe sofrimento ligado a essa situação. Isso, apesar de ser o primeiro passo, é um dos mais difíceis”, afirma Elizandra. Afinal, a pessoa tende a jogar a culpa do problema no outro ou em outras coisas, e nunca naquilo que lhe causa prazer, aponta a psicanalista.
Ela indica, inicialmente, reduzir o tempo de permanência no jogo. “Não existirá resolução de problemas devido ao jogo, se a pessoa continuar no videogame. Posteriormente, é preciso buscar outras formas de diversão e descarga de estresse. E, quando necessário, buscar ajuda profissional, seja para as questões físicas, psicológicas ou financeiras”, ressalta a profissional.