Esta semana, Tadeu Schmidt chamou atenção de Gabriel no BBB 23 sobre a forma como ele tem tratado a atriz Bruna Griphao. Os dois iniciaram um relacionamento logo que a edição do programa começou, mas o brother que veio da Casa de Vidro demonstrou um comportamento abusivo e, em alguns momentos, até mesmo violento.
Em certa ocasião, Bruna disse que ela era o homem da relação. Gabriel prontamente respondeu: “você vai tomar umas cotoveladas na boca”. O episódio motivou o discurso de Tadeu e acendeu o debate sobre relações tóxicas e abusivas.
Ronaldo Coelho, professor de Psicanálise e Análise do Discurso, explica que quando falamos estamos sempre negociando o sentido do que dizemos e qual relação vamos constituir com o outro. Este outro, por sua vez, pode aceitar ou se negar à proposta de relação em curso.
“A primeira fala pressupõe a ideia machista de que o homem seria superior à mulher e, por isso, a submeteria na relação. Essa seria a posição e a proposta de relação de Bruna para Gabriel, ao que ele rebate afirmando que não se submeteria a essa posição que ela atribuiu a ele e que, para submetê-la, poderia fazer uso da força e da violência física caso julgasse necessário”, analisa.
Gabriel falou em tom de brincadeira?
Mesmo que Gabriel tenha falado em tom de “brincadeira”, isso não anula os termos da negociação, explica Ronaldo, já que não anula o fato de que eles estavam falando de quem iria se submeter a quem. “Quando categorizamos algo desse tipo como brincadeira, há o perigo de que se caia num terreno sem limites. Na relação abusiva não há apenas um abusador e uma vítima. Olhando com atenção, vemos que os próprios limites do que é bom e do que é ruim, do que pode e do que não pode, foram apagados. Por esse motivo acontece de muitos casais não se perceberem num relacionamento abusivo”, afirma.
Quando uma das partes diz, mesmo que na brincadeira, que vai submeter a outra pessoa utilizando a força, há um sinal importante a ser considerado. “Os limites de uma relação só podem ser negociados, o que nos mostra que se não há limites é porque ambos toparam essa forma de relação onde pode tudo, inclusive a violência física”, destaca o especialista.
Gaslighting: abuso silencioso
Para a psicanalista Dra. Andrea Ladislau, o comportamento de Gabriel pode ser definido como gaslighting. “A melhor definição para o gaslighting é um tipo de abuso silencioso, já que não há uma agressão clara. Mas sim, a agressão existe e vem disfarçada de ações que podem camuflar a perversidade do processo em si”, explica.
O episódio da cotovelada, no entanto, não foi a primeira vez que Gabriel demonstrou um comportamento abusivo com Bruna. Ele também já fez comentários maldosos sobre sua aparência e foi ríspido em algumas reações. Conforme a descrição da psicanalista, isso se encaixa na definição de gaslighting.
“Trata-se de uma manipulação sutil, na qual o abusador enfraquece a autoestima, o amor próprio e a confiança da vítima, fazendo com que ela se coloque cada vez mais submissa, dependente e, se anulando. Isso ocorre a tal ponto que ela não consegue ter a clareza destes atos perversos, e coloca em dúvida suas próprias emoções e seus medos”, explica.
De acordo com a especialista, uma das principais características desse abuso psicológico é a alteração da percepção de realidade da vítima, que anula sua consciência e cria a negação de que vive em meio a uma atmosfera abusiva. Porém, a carência afetiva desta contribui para sua insegurança e confusão emocional diante dos acontecimentos.
Violência psicológica
“Portanto, podemos entender porque a gaslighting é uma agressão psicológica silenciosa e incessante, que tem como consequências para suas vítimas, efeitos de maus tratos mentais severos e em alguns casos até irreversíveis. O praticante deste ato, através de sua perversidade, tenta passar para a vítima que ele só quer ajudar, mostrando a ela que pode sim confiar nele e que suas atitudes são para ajudar e proteger. Porém, se não houver um basta a relação vai se tornando cada vez mais tóxica e doentia”, destaca.
A Dra. Andrea aponta que o gaslighting é crime. Ele pode ser enquadrado na Lei Maria da Penha, por exemplo, já o artigo 5º da legislação define que haverá crime caso haja violência psicológica, não necessitando de violência física. A psicanalista reforça que isso pode causar muitos danos psíquicos em quem sofre o abuso.
“O retrato real da nossa atual sociedade mostrada através das interações comportamentais dentro do Big Brother Brasil, denunciam uma triste realidade sobre as várias formas e mecanismos de violência presentes no universo das relações pessoais, que devem ser divulgadas e esclarecidas para a população. Mas, quanto mais orientados e informados estivermos, mais perceptível fica entender as estratégias de abuso, principalmente entre as mulheres”, ressalta.
Sinais de alerta: como identificar uma relação abusiva?
A médica psiquiatra Dra. Jéssica Martani, especialista em comportamento humano e saúde mental, revela como algumas situações podem ser os sinais de alerta. Esses sinais ajudam a compreender se alguém é prisioneiro dentro de uma relação tóxica. Confira:
1- A prisão do encantamento
“A pessoa promete mil sonhos, mas que são apenas promessas nos quais nenhum deles são realizados e servem apenas para manter o outro aprisionado em uma expectativa. Assim, a pessoa não sai da relação, pois está sempre esperando algo acontecer”.
2 – A prisão da gratidão
Nesse caso, a pessoa demonstra-se maravilhosa e sempre tenta fazer tudo para agradar, mas “joga na cara” o tempo todo o que está fazendo de ‘bom’. Desta forma, o outro se sente sempre na obrigação de agradar o outro e não consegue nunca dizer não. Nesta obrigação, se sente sempre culpado e não consegue sair da relação.
3 – A prisão do “eu não vivo sem você”
Parece romântico, mas merece cuidado. Serve para inflar o ego deixando o outro com uma importância além do normal, como se a pessoa dependesse do outro, impedindo então o outro de sair do relacionamento, pois se sente culpado.
Alguns sinais estão onde menos imaginamos
4 – A prisão do “você é o meu grande amor”
A pessoa sofre, chora e em casos mais graves ameaça se matar caso o outro o deixe. Tem ciúmes sufocante de família, amigos, trabalho e começa a impedir que o outro faça as coisas que sente vontade. É um jogo de manipulação e chantagem emocional que faz o parceiro se sentir com um coração ruim, o que o faz se anular.
5 – A prisão da proteção
Faz o outro pensar que sem a proteção dele não há como viver. O faz sentir incapaz de se virar sozinho, intimida e diminui. Dessa forma, o parceiro sente plena necessidade de estar dentro desta relação.
6 – A prisão da jaula confortável
Através de presentes, e conforto e “carinho” a pessoa acaba não conseguindo sair do relacionamento. Pois, com todo esse conforto, é difícil sair de uma relação e se “aventurar” no desconhecido.
Saindo de uma relação abusiva: por onde começar?
A psicanalista Dra Andrea Ladislau indica que, ao menor sinal de agressão psicológica, deve-se buscar ajuda profissional, sem ter medo da exposição. “Se faz necessário o resgate da credibilidade, da autonomia, da liberdade de expressão e da autoestima, para evitar o adoecimento emocional que muitas vítimas sofrem por se verem envolvidas e oprimidas por um tipo de perversão camuflada como essa”, reforça.