Pesquisadores do Hospital Johns Hopkins estão treinando um algoritmo para reconhecer diferentes doenças, dentre elas o acidente vascular cerebral (AVC). O objetivo é que a tecnologia identifique mudanças nas características dos pacientes, como a paralisia de certos músculos faciais ou movimentos oculares incomuns. Isso porque esses sintomas indicam danos ao cérebro causados por derrame, em oposição a convulsões, enxaquecas graves ou transtornos de ansiedade.
Os pesquisadores inscreveram cerca de 120 dos 400 pacientes planejados no estudo preliminar. Eles esperam treinar o algoritmo de detecção de AVC para melhorar sua precisão. Em estudo prévio com 40 pacientes que já haviam sido diagnosticados por um médico, o algoritmo foi 70% preciso. Para isso, os vídeos são enviados para um banco de dados usado para treinar o algoritmo.
Detecção do AVC
Para o Dr. Victor Hugo Espíndola, neurocirurgião e especialista em AVC, o uso destas tecnologias é um passo interessante para a medicina. Na questão do acidente vascular cerebral, por exemplo, um dos sintomas mais comuns é a paralisia facial.
“A boca pode ficar torta por um lado, e a inteligência artificial pode reconhecer isso precocemente, indicando ao paciente que ele está tendo um AVC e encaminhar diretamente pro hospital”, afirma o médico.
Além disso, a inteligência artificial se mostrou capaz de detectar alterações muito sutis na face, até mesmo relacionada à parte de batimento cardíaco, pressão arterial, que o olho humano não consegue perceber.
“Então, até alterações sutis podem indicar um quadro precoce que a gente não consegue perceber pela nossa capacidade de avaliação, e a inteligência artificial vai ser capaz disso”, ressalta o especialista. No caso do AVC, o tratamento médico rápido é essencial para um bom prognóstico — isso reforça a relevância da detecção precoce feita por essas tecnologias.
Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)
Mas este não é o único avanço da medicina nesse sentido. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) estão analisando o reconhecimento facial para diagnosticar a progressão da esclerose lateral amiotrófica (ELA). Esta é uma doença degenerativa dos nervos que provoca paralisia progressiva dos músculos.
Hoje a grande dificuldade que a gente tem na ELA é o diagnóstico precoce, destaca o neurocirurgião. “Normalmente é um diagnóstico de exclusão, quando a gente não consegue ter o diagnóstico de nenhuma doença, mas apresentam sinais de acometimento do neuromotor, dá-se o diagnóstico de ELA, junto com outras características da doença. Por isso, é um diagnóstico tardio”, destaca.
Então, se a inteligência artificial tiver essa capacidade de diagnosticar precocemente, é possível instituir o tratamento de maneira mais efetiva e mais cedo, e assim conseguir retardar a evolução dessa doença. “A ELA não tem cura ainda. A gente tem um tratamento para tentar evitar essa progressão, e quanto mais precoce a gente instituir, melhor vai ser para o paciente”, reforça o médico.
Diagnóstico precoce
Segundo o especialista, o diagnóstico precoce é a principal vantagem de utilizar a inteligência artificial e o reconhecimento facial. “Então essas tecnologias vão contribuir pra isso: pra gente conseguir diagnosticar as doenças com maior efetividade no início e poder tratar cedo. Seja qualquer doença oncológica, AVC, doença neurodegenerativa, qualquer doença, quanto mais precoce a gente iniciar o tratamento, melhores serão as respostas”, enfatiza Victor Hugo.
Inteligência artificial aliada à medicina
Quanto à efetividade dessas tecnologias, ainda não é possível saber ao certo, aponta o médico. “É claro que no início é fase de treino, a inteligência artificial tem que aprender. Nós seres humanos temos que ensinar e aprender com elas, é todo o processo de desenvolvimento. Vão ter falhas no início, mas a tendência é que isso vá se aprimorando com o tempo e sendo cada vez mais assertivo”, estima o profissional.
Para ele, é improvável que haja qualquer prejuízo ou dano ao tratamento. Isso porque o paciente sempre contará com o acompanhamento médico. Afinal, essas tecnologias nunca vão ser capazes de substituir o médico, a relação ao médico paciente e dos outros profissionais de saúde também, afirma o neurocirurgião.
“Eu acho que a inteligência artificial está só começando, tem muito a contribuir ainda. E a gente tem que aprender a trabalhar, conviver com ela e exigir o máximo dela pra que possa nos ajudar, porque quem vai se beneficiar com isso é sempre o nosso paciente”, conclui.