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Burnout é agora doença do trabalho: outras condições também atingem o trabalhador

Especialistas explicam como o contexto estressante do trabalho ocasiona em problemas como o burnout, depressão e ansiedade

Burnout é agora doença do trabalho: outras condições também atingem o trabalhador
Burnout é agora doença do trabalho: outras condições também atingem o trabalhador - Foto: Shutterstock

No último 29 de novembro a Lista de Doenças relacionadas ao Trabalho (LDRT) foi atualizada pelo Ministério da Saúde. De 182 patologias, a lista passou a contar com 347 condições, incluindo burnout, depressão, ansiedade, abuso de dogras e tentativas de suicídio.

A atualização parte do princípio de que tanto as patologias que se configuram como adoecimento mental quanto o uso de drogas podem ser consequência de jornadas exaustivas e assédio moral, da mesma forma como o abuso de álcool que já constava na lista.

O caso do burnout

A Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional que causa sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico. Tudo isso é resultado de situações de trabalho desgastante. Portanto, a principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho.

Tatyana Azevedo, neuropsicóloga e mestranda em psicanálise, explica que um dos primeiros sinais é a dificuldade em relaxar, mesmo durante o tempo livre. Isto é, o paciente não consegue desligar-se das preocupações relacionadas ao trabalho.

“No entanto, alguns pontos de atenção prevê três componentes inter-relacionados: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal. Geralmente há também retração social, irritabilidade, mudanças de humor, desmotivação, queda no desempenho no trabalho, dificuldade em se concentrar, tomar decisões ou ser produtivo como antes”, enumera.

A neuropsicóloga aponta ainda que em muitos casos podem ocorrer sintomas físicos. É o caso, por exemplo, de alterações de sono e apetite, dores de cabeça frequentes, problemas gastrointestinais, tensão muscular, aumento da pressão arterial.

De acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho, 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a Síndrome de Burnout. Para Tatyana, a inclusão da condição na LDRT configura um avanço em resguardar condições psicológicas e sociológicas de trabalho saudáveis. Segundo ela, isso traz benefícios significativos tanto para empresas como para empregados. 

DABA – o impacto do trabalho no trabalhador

O psiquiatra Roberto Shinyashiki, autor do livro “Inteligência Afetiva – o carinho ainda é essencial”, identificou que depressão, ansiedade, burnout e agressividade eram os sintomas que mais assombram os colaboradores. A partir daí, o psiquiatra elaborou o conceito DABA – acrônimo destes sintomas.

De acordo com Roberto, o DABA tem como origem a solidão sentida pelos profissionais na esteira do estresse e da pressão que enfrentam no dia a dia de seus trabalhos. “O ambiente competitivo, com metas cada vez mais inatingíveis, e frio de afeto, que caracteriza as empresas, faz com que os profissionais se sintam rejeitados ou abandonados antes mesmo de o serem. Isso porque têm medo de serem demitidos, desvalorizados e preteridos”, diz.

O DABA pode se desenvolver da seguinte maneira, explica o psiquiatra: para cumprir prazos apertados e manter sua posição na empresa, o funcionário trabalha de maneira árdua e sem descanso. Paulatinamente, apresenta sinais de cansaço, falta de motivação e apatia. 

Com o foco direcionado apenas nas tarefas que precisa realizar e nos objetivos que necessita cumprir, isola-se e experimenta a solidão. Esta, por sua vez, incapacita-o para buscar ajuda. Sem saber reconhecer os sintomas do DABA e lidar com o que sente, o profissional passa a ter comportamentos agressivos frequentes no trabalho. Isso acaba por reforçar e intensificar sua solidão. Forma-se, assim, um ciclo vicioso.

Lutando contra esses distúrbios

Para conseguir tratar a fundo o DABA, conseguindo resultados sustentáveis, o indivíduo precisa compreender e identificar seus sintomas, através da tomada de consciência de seu estado atual, destaca o psiquiatra. “Só assim poderá ultrapassar as barreiras que estão prejudicando a sua saúde mental e impedindo de viver uma vida verdadeiramente saudável e feliz”, afirma.

Portanto, é imprescindível mudar o estilo de vida, colocando a inteligência afetiva na sua maneira de se relacionar. “Habilidade de compreender, assimilar e usar efetivamente pensamentos, emoções e ações nos vínculos interpessoais para cultivar relacionamento plenos, a inteligência afetiva é um santo remédio para o DABA, justamente porque permite que a pessoa se olhe, se ouça e perceba como está se sentindo e como está tratando a si mesmo e aos outros”, diz Roberto.

O psiquiatra explica que a partir da inteligência afetiva o indivíduo encontra forças para buscar ajuda com o intuito de lidar com os sintomas do DABA, ou seja, tratar a depressão, liberar a ansiedade, cuidar de si e se permitir ser cuidado no caso de um burnout, e desculpar-se e se corrigir quando apresentar comportamento agressivo em momentos inadequados.

Além da inteligência afetiva, o indivíduo deve trabalhar em mais frentes para se livrar da agonia que é viver com DABA. São elas: 

  • Participar de grupos de pessoas que sejam abundantes em afeto e alegria;
  • Criar rotinas na vida profissional e pessoal nas quais se sinta amado;
  • Ajudar as pessoas ao seu redor a sentirem muito amadas.

Isso porque, para espantar o medo da depressão e da ansiedade, e as demais doenças mentais que são desencadeadas por uma rotina estressante de trabalho, é preciso viver uma vida repleta de amor e plena de sentido, destaca Shinyashiki.

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