Um estudo publicado em março na revista científica Cancer Research mostrou que o tabagismo leva a alterações na boca que podem se tornar câncer. Os pesquisadores descobriram que as células da boca de fumantes tinham alterações condizentes com as de estágios pré-cancerosos, com crescimento rápido e anormal das células mais expostas à fumaça, tanto do cigarro eletrônico quanto do tradicional.
Além disso, vale ressaltar que, além do câncer, o tabagismo também pode causar doença periodontal, halitose e manchas nos dentes, língua e mucosa. Portanto, o hábito é um grande inimigo da saúde bucal. Já os cigarros eletrônicos (vapes) contêm aerossóis que causam, entre outros problemas, a boca seca.
“A falta de saliva pode desencadear o mau hálito. E não adianta a escovação para tratar o problema, precisa parar de fumar mesmo. Vale lembrar que o cigarro eletrônico também pode promover manchas, além de outros problemas mais sérios para o organismo”, explica Patrícia Almeida, cirurgiã-dentista integrante da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD).
Quais são as principais alterações que o tabagismo provoca na boca e nos dentes?
Conforme a especialista, o hábito de fumar pode causar manchas nos dentes e mau hálito, gengivite, o que pode evoluir para uma periodontite e a perda do elemento dentário. Além disso, o câncer de boca também é um risco.
Isso porque, segundo Patrícia,o fumo reduz a capacidade de cicatrização na boca, ali na gengiva. Então, ele prejudica a circulação sanguínea e aumenta a inflamação.
“Quando diminui a circulação sanguínea, qualquer coisa que você vá ter na gengiva, a cicatrização e a inflamação é desacerbada. Com isso, podem aparecer doenças periodontais, como a gengivite, que é a famosa inflamação no tecido da gengiva, e a periodontite, que é a evolução da gengivite. A gengivite só pega o tecido da gengiva. A doença periodontal já pega a parte óssea”, explica.
Além disso, fumantes geralmente apresentam manchas escuras nos dentes e, devido à nicotina, elas são difíceis de tirar. “Com a raspagem, a limpeza, a profilaxia, elas saem, mas acabam manchando o esmalte, então precisa fazer um clareamento dental depois”, salienta a cirurgiã-dentista.
Já a halitose também pode aparecer. Isso porque o cigarro causa a gengivite que desencadeia o mau hálito. Além disso, quem fuma tem uma diminuição da saliva, ou seja, quando a boca fica seca o hálito fica diferente, destaca Patrícia.
O risco de câncer de boca
O tabagismo é um grande fator de risco para o câncer de boca por conta das substâncias químicas do cigarro, que são tóxicas e causam danos celulares. “Essas substâncias tóxicas que estão presentes no cigarro atrapalham a maneira correta do desenvolvimento da célula, acarretando esses cânceres. Então, pode ter câncer de boca, de língua, de gengiva, de palato (céu da boca), de bochecha, do assoalho da boca e de lábio, que é mais associado ao filtro do cigarro”, alerta a especialista.
Prevenção: é possível reduzir os impactos do cigarro na saúde bucal?
Infelizmente, não tem nenhuma medida preventiva que o fumante possa adotar para minimizar esses danos na saúde bucal, aponta Patrícia. Isso porque, por mais que o fumante escove os dentes depois de fumar, o efeito é efêmero. “Não é uma coisa que fica resquício na boca, é a hora que ele está tragando o cigarro. Então, ele está tragando, está tendo toxina, substâncias tóxicas dentro da boca dele”, alerta..
Por isso, a profissional recomenda ir ao consultório odontológico a cada três meses para fazer uma avaliação. Essa avaliação, aliás, também pode ser feita em casa. “Você tem alguma mancha diferente, tem algum machucadinho que não cicatrizou? É bom olhar a língua, bochecha, gengiva, fazer a manutenção no dentista realmente a cada três meses e uma profilaxia”, diz a cirurgiã-dentista.
Nesse sentido, Patrícia chama atenção para os principais sinais de alerta: o primeiro é o mau hálito, que é mais fácil de identificar. Segundo, as manchas nos dentes. Terceiro, uma retração na gengiva, ou seja, o paciente começa a notar que o dente está ficando maior. Então, já é possível ver um problema de gengivite, caso de doença periodontal instalada.
Para quem deseja parar de fumar, Patrícia recomenda aumentar a frequência de escovação dos dentes. “Quando você escova o dente, você fecha as papilas gustativas, então não fica com aquela sensação de querer alguma coisa (no caso, o cigarro) ou querer um doce”, finaliza a profissional.